Essa aqui eu nem ia comentar. Mas está na minha cabeça desde quinta-feira, vira e mexe eu me lembro, vira e mexe penso nisso. Bem, quem acompanha o blog sabe que eu pretendo receber a Clara por parto normal. E quem acompanha um pouquinho mais sabe que eu espero que esse parto normal tenha todas as condições para que aconteça em casa. Tenho meus motivos, estou consciente deles, certa e segura. Ponto final.
Estou de 32 semanas de gestação e, a partir da 37a., começo a fazer o acompanhamento com a equipe que vai me amparar nessa, embora esteja fazendo pré-natal desde a semana seguinte à que soubemos que estávamos grávidos.
Bem, o fato é o seguinte.
Dia desses, eu e o namorado fomos dar uma voltinha, ver a vida, ver gente, e foi ótimo. Aí encontramos umas pessoas e, como sempre tem acontecido, a conversa enveredou pelo tema gravidez, parto, amamentação, enfim. Aí a pessoa me perguntou se eu já tinha marcado a cesária ou se teria o bebê por parto normal. Eu simplesmente disse: não não, vai ser normal. E parei por aí (porque aos 31 anos eu já sei que às vezes é melhor deixar como tá). Mas como o namorado-papai está mesmo gostando da ideia do parto domiciliar, deu os detalhes, disse que nós receberíamos a Clara no quentinho da nossa casa, e perguntou se ela conhecia o grupo Hanami (que é a equipe de parto domiciliar planejado que vai nos atender, já falei delas aqui). Ao que a distinta pessoa – porque é realmente distinta, simpática e, até aquele momento, agradável – rapidamente respondeu, interrompendo o namorado: Não, não. Não conheço e nem pretendo conhecer. Tem coisa que eu prefiro não saber.
Óóó??!!
A conversa continuou como se nada tivesse acontecido.
Mas confesso que fiquei muito chocada com aquele comentário.
Todo mundo tem direito de pensar o que quiser, sou a favor da total liberdade de opinião. Mas todo mundo deveria ter o dever, também, de segurar a sua língua e sua grosseria a favor da boa educação e da boa convivência.
Mesmo porquê, se for assim, falamos-o-que-quisermos-quando-quisermos-pra-quem quisermos, o mundo será um lugar mala e eu, particularmente, seria considerado uma desajustada social ou uma sem noção. Naquele momento, quem me conhece deve imaginar a força que eu fiz pra não mandar uma ali na lata mesmo. Respirei, segurei, mas não pude evitar que meus olhinhos se apertassem (ficando menores do que já são) e que minha sobrancelha esquerda fizesse o famoso ângulo que anuncia: PERIGO: ANIMAL FEROZ COM FOME. Mas como eram conhecidos do namorado e ele não tinha nada a ver com a história, pelo contrário, fiquei miúda. Lógico que o encontro terminou em 2 minutos porque eu apressei com a famosa frase: “Vamintão?”. Mas tive que conviver com uma azia medonha durante os dois dias seguintes. Sei que a azia é causada pelo crescimento intenso do útero, que empurra o estômago pra cima, promovendo refluxo e causando azia. Mas que me deu uma sensação que era coisa mal digerida, deu.
Apenas a título de informação: nós temos uma região cerebral chamada córtex pré-frontal. Fica localizada na superfície cerebral, na área bem atrás da testa, vamos dizer assim. Essa parte do cérebro está associado ao controle dos impulsos, ao planejamento, à antecipação de consequências, ao pensamento, à lógica e à adequação dos nossos comportamentos às diferentes situações que vivemos diariamente. O bom funcionamento dessa área é que permite que sejamos seres sociáveis, com habilidade para o tradicional “bom dia, boa tarde, boa noite”, que faz com que saibamos como devemos nos portar em diferentes situações. Isso a gente já sabe desde um pouquinho depois de 1848, depois que um cara chamado Phineas Gage teve seu córtex pré-frontal perfurado por uma barra de ferro na construção de uma estrada nos EUA. O cara saiu vivinho, mas virou um mala dosinfernu, que dizia toda sorte de impropérios a quem passasse em sua frente, sem avaliar o ato ou antecipar as consequências.
Claro que a pessoa tem um córtex pré-frontal íntegro e bem funcionante, deve ter sido só um escorregão, ou uma escapulida.
Mas é só pra lembrar: ouvir seu córtex pré-frontal de vez em quando faz bem pra todo mundo. Além de aumentar a longevidade dessas estruturas brancas compostas por polpa, dentina e esmalte que ficam implantadas na mandíbula e no maxilar. Os dentes.
Gente sem noção…
Depois sou eu que falo só o que eu penso…

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