Vocês sabem que durante toda a pandemia de Covid-19, eu me dediquei – e me dedico ainda – a levar informação confiável e de base científica para ajudá-las, como mulheres e mães, a darem passos mais seguros. Não apenas porque esse é também o meu trabalho, mas porque tivemos que conviver com ministros de um governo negacionista que mentiram sobre seus currículos, disseram ter doutorado quando haviam sido reprovados ou sequer possuíam experiência técnica ou vivencial que justificasse sua presença à frente de diferentes ministérios. Esse cenário gerou toda uma incerteza que vulnerabilizou o principal grupo social responsável pela tomada de decisão em saúde coletiva: as mulheres, em especial as mães.
Vimos toda a desgraça que a falta de condução adequada do Ministério da Saúde pode ajudar a promover na vida de um povo que sofre com tantas desigualdades, como o povo brasileiro. Não fosse a terrível condução do antigo governo, teríamos poupado grande parte das 700 mil vidas perdidas. Mas conhecer quem é o Ministro ou a Ministra da Saúde é importante não apenas em momentos limítrofes como uma pandemia e, sim, todos os dias, porque as decisões políticas em saúde impactam diretamente nossa vida – e algumas vidas ainda mais. Mulheres mães são responsáveis não apenas por sua própria saúde – que, sim, deve ser prioridade – mas, também, pela saúde das crianças sob sua responsabilidade. Basta lembrar que cerca de 85% de todas as crianças brasileiras estão sob cuidados de mulheres e, assim, entendemos como colocar as mães no centro do debate é determinante e crucial em qualquer ação de saúde.
Hoje temos uma nova Ministra da Saúde e ela é Nísia Verônica Trindade Lima. Então vamos conhecê-la!
Dra. Nísia Trindade é carioca, socióloga, graduada em Ciências Sociais pela UERJ, esteve ligada ao movimento estudantil em defesa da democracia, é mestra em Ciência Política e sua dissertação de mestrado levou como título “O movimento de favelados do Rio de Janeiro: políticas do Estado e lutas sociais”. É doutora em Sociologia e sua tese de doutorado, intitulada “Um sertão chamado Brasil: intelectuais, sertanejos e imaginação social”, ganhou o Prêmio de Melhor Tese de Doutorado em Sociologia pelo IUPERJ. Como muitas de nós, pesquisadoras, Nísia também foi bolsista CAPES e CNPq.
Tudo isso mostra que a nova ministra possui amplo conhecimento científico não desconectado de seu povo, pelo contrário, dependente dele. Ela dedicou sua vida a estudar a fundo o povo brasileiro e sabe o contexto em que vivem mestrandos e doutorandos bolsistas no Brasil. Não bastando essa formação, Nísia recebeu a Medalha do Centenário da Fundação Oswaldo Cruz em 2000 e, como diretora da Casa Oswaldo Cruz, criou o Programa de Pós-Graduação em História das Ciências e da Saúde.
Nísia foi a primeira mulher diretora da Fiocruz em 120 anos de história e foi ela a diretora da Fundação durante a pandemia, saindo apenas agora, para assumir o Ministério. E a desgraça que vivemos por má condução sanitária do antigo Governo Federal só não foi maior também porque Nísia estava à frente da Fiocruz, coordenando ações como a criação do novo Centro Hospitalar em Manguinhos, aumentando a capacidade de produção de kits diagnósticos, dando atenção à saúde da população mais vulnerável, fazendo com que a Fiocruz se transformasse em referência nas Américas em COVID-19, fazendo o monitoramento e divulgação de informações de base científica, coordenando, junto com a Universidade de Oxford, a produção local das vacinas AstraZeneca, entre outras ações.
Em seu discurso como Ministra da Saúde, Nísia afirmou que fará um revogaço em portarias e notas técnicas geradas no antigo governo e que, segundo ela, “ofendem a Ciência, os direitos humanos, os direitos sexuais reprodutivos e que transformaram várias posições do Ministério da Saúde em uma agenda conservadora e negacionista” e criticou duramente a postura obscurantista do governo Bolsonaro.
Em seu discurso, enfatizou a importância de medidas para a Saúde Mental e a Saúde das Mulheres, o que mostra seu total compromisso com questões fundamentais para o povo brasileiro, para nós, mulheres, especialmente, e irá revogar normativas que recomendam cloroquina e hidroxicloroquina contra a Covid-19, indo a favor de recomendações da Organização Mundial da Saúde. E mostrou que sua prioridade será, também, voltada para a população preta, ao reconhecer que “a doença no Brasil tem cor”, comprometendo-se a combater o racismo estrutural na saúde. Com Nísia, a vacinação voltará ao centro da importância, e fortalecerá nosso Plano Nacional de Imunização.
Nossa nova Ministra foi recebida no evento de sua posse ao som do povo gritando “O BRASIL VOLTOU A RESPIRAR” e sabemos a imensa importância disso depois de um governo que imitou pessoas asfixiando e contribuiu tanto para mortes evitáveis.
Mas um ministério não é feito apenas de uma ministra, é composto por diferentes secretarias. E as pessoas que Nísia nomeou para essas secretarias mostram, novamente, seu compromisso com a realidade brasileira, com a saúde coletiva e com o conhecimento técnico e vivencial:
NA SECRETARIA DE VIGILÂNCIA DE SAÚDE E AMBIENTE: Dra. Ethel Maciel – Enfermeira, Mestra em Enfermagem de Saúde Pública, Doutora em Saúde Coletiva/Epidemiologia, com pós-doutorado pela Johns Hopkins University. Foi eleita Reitora da UFES para o período de 2020-2024, mas Bolsonaro não a nomeou. E possui grande comprometimento com a causa das mulheres e meninas na Ciência.
NA SECRETARIA ESPECIAL DE SAÚDE INDÍGENA: Ricardo Weibe Tapeba – Advogado, líder do povo indígena Tapeba, vereador no município de Caucaia (CE), foi coordenador da Federação dos Povos e Organizações Indígenas do Ceará, integrante do Departamento Jurídico da Articulação dos Povos e Organizações Indígenas do Nordeste, Minas Gerais e Espírito Santo e também foi, junto com Sônia Guajajara, um dos nomes indicados para assumir o Ministério dos Povos Indígenas.
NA SECRETARIA DE INFORMAÇÃO E SAÚDE DIGITAL: Dra. Ana Estela Haddad – Graduada em Odontologia, Mestra e Doutora em Ciências Odontológicas pela USP, Livre-Docente também pela USP, foi uma das idealizadoras e implementadoras do PROUNI (Programa Universidade para Todos), foi Diretora de Gestão da Educação na Saúde do Ministério da Saúde de 2005 a 2010, é membra do Grupo SAITE (Saúde, Inovação, Tecnologia e Educação) de Pesquisa do CNPq, uma das representantes do Brasil na Red de Lideres por la Primera Infancia, tendo sido convidada pela ex-Presidenta do Chile Michelle Bachelet.
NA SECRETARIA DE ATENÇÃO PRIMÁRIA: Nésio Fernandes – É médico sanitarista, Especialista em Medicina Preventiva e Social e em Administração em Saúde, foi Presidente da Fundação Escola de Saúde Pública de Palmas (TO), médico da estratégia saúde da família e Secretário Municipal da Saúde de Palmas. Também foi Secretário de Estado da Saúde do Governo do Espírito Santo e presidente do Conselho Nacional de Secretários de Estado da Saúde.
NA SECRETARIA EXECUTIVA: Dr. Swedenberger Barbosa – É Doutor e Mestre em Ciências da Saúde pela UNB, Especialista em Saúde Pública, Especialista em Saúde Coletiva, graduado em Odontologia, professor convidado do Programa de Pós-Graduação (Fiocruz-UFF-UERJ-UFRJ) em Bioética, Ética Aplicada e Saúde Coletiva, com vasta experiência em gestão pública da Saúde nos âmbitos Estadual e Federal.
NA SECRETARIA DE ATENÇÃO ESPECIALIZADA: Dr. Helvécio Magalhães – Doutor em Saúde Coletiva pela UNICAMP, Especialista em Clínica Médica e Epidemiologia, médico formado pela UFMG, foi Secretário Municipal de Saúde e Secretário Municipal de Planejamento, Orçamento e Informação de Belo Horizonte (MG), Presidente do Conselho Nacional de Secretários Municipais de Saúde, foi Secretário de Atenção à Saúde do Ministério da Saúde e Secretário Estadual de Planejamento e Gestão de Minas Gerais.
NA SECRETARIA DE CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INSUMOS ESTRATÉGICOS: – Dr. Carlos Gadelha – Doutor em Economia pela UFRJ, coordenador do Centro de Estudos Estratégicos da Fiocruz “Antonio Ivo de Carvalho”, foi vice-presidente de Produção e Inovação em Saúde da Fiocruz de 2007 a 2011, foi secretário de Programas de Desenvolvimento Regional do Ministério de Integração Nacional de 2003 a 2006, secretário de Ciência e Tecnologia e Insumos Estratégicos do Ministério da Saúde de 2011 a 2015 e secretário de Desenvolvimento e Competitividade Industrial no Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior de 2015 a 2016.
NA SECRETARIA DE GESTÃO DO TRABALHO E EDUCAÇÃO EM SAÚDE: Dra. Isabela Cardoso – Doutora em Administração, Mestra em Saúde Coletiva, graduada em Serviço Social, professora permanente do Programa de Pós-Graduação do Instituto de Saúde Coletiva da UFBA, foi diretora do ISC/UFBA de 2013 a 2021, foi superintendente de Recursos Humanos da Secretaria de Saúde do Estado da Bahia de 2007 a 2009, foi chefe de Gabinete da Reitoria da UFBA de 2002 a 2006, é coordenadora do Observatório de Análise Política em Saúde do ISC/UFBA e coordenou as investigações do projeto ObservaCovid
Nós, pesquisadoras, cientistas, sanitaristas, mulheres, mães, estamos muito satisfeitas e esperançosas por termos a primeira mulher como Ministra da Saúde. Mas não qualquer mulher: Nísia Trindade.
Bom trabalho, Ministra! E conte com a gente. Viva o SUS!
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Parte do meu trabalho é orientar e apoiar mulheres nas diversas questões de suas vidas: maternidade, educação sem violência, empoderamento, fortalecimento, carreira profissional, desenvolvimento científico – além da popularização da Ciência e divulgação científica. Se você precisa de apoio e orientação, mande um e-mail para ligia@cientistaqueviroumae.com.br que te explicamos como funciona a MENTORIA E APOIO MATERNO. Sou Mestra em Psicobiologia pelo Departamento de Psicologia e Educação da USP, Doutora em Ciências/Farmacologia pela Universidade Federal de Santa Catarina e Doutora em Saúde Coletiva também pela Universidade Federal de Santa Catarina, com foco na saúde das mulheres e das crianças.