Ok, ok, a vida de grávida é sublime. É linda. É romântica. É tooodo de bom. É um momento em que você sente que Deus confia em você, vamos dizer assim.
É.
Maomeno.
É mesmo INCRÉÉVEL estar grávida. Bom, eu, pelo menos, tô adorando! É legal demais acompanhar todas essas mudanças punk-rock-metal-pesado que acontecem com a gente e ver que a gente serve pra coisas mais sublimes e nobres do que sair por aí fazendo bizarrice. Que a gente tem capacidade – e talento – pra acolher, nutrir, formar e amar um serzinho à sua imagem e, porque você é uma sortuda, à sua semelhança…
Má vou dizer: tem hora que a gravidez acaba com todo o glamour da pessoa… Tem hora não. Tem horaS. Plural.
Eu já vinha pensando em escrever esse post faz tempo, compartilhando os momentos ORGANIZAÇÕES TABAJARA da minha nova vida. Mas não tinha tido inspiração, ou tempo, ou tempo e inspiração, sei lá.
Agora deu.
Então vamos lá.
Nota importante: os fatos não estão em ordem cronológica…

FATO 1: MEIAS DE NYLON QUE TRAUMATIZAM A PESSOA

O inverno foi chegando e as calças foram desaparecendo em função da circunferência das coxas. E do tamanho da retaguarda. Solução: meias de nylon para usar com vestidinhos. A moça sempre usou tamanho M de meia. Aí pensa: vai servir o G. Vai comprar o G e compra dois lindos modelos modeeeernos e leeeendos. Chega em casa feliz. Coloca a meia. Quase cai tentando enfiar aquele estreito cilindro de nylon num pernão que meu Deus… Depois de suar até molhar o cabelo, desiste. Guarda as meias para um futuro QUEDEUSQUEIRA que esteja próximo. Compra outra meia. “Que tamanho que vc quer, moça?” “GG” “Quê moça?” “GG” “Moça, não tô ouvindo” “GEGÊ PORRA, TÁ SURDA?” A moça ri de cantinho (eu sei que ela quer é deitar e bater no chão de tanto rir, eu sei…) e traz a meia. Chego em casa. Cabem 3 de mim em cada perna… Aí, depois, vc aprende que era só a porcaria da marca… Aquela primeira marca faz tamanhos micro mesmo. E deveria ser processada, a desgraça, por traumatizar uma pobre grávida de primeira viagem. Se bem que, pelo tamanho da mulher, tem que fazer duas viagens, eu acho…

FATO 2: O DIA QUE VOCÊ PERCEBE QUE O MUNDO NÃO É MAIS O MESMO PRA VOCÊ…

Aí um dia vc pega um tênis que adora, senta na cama pra calçar e, de repente… O braço ficou curto ou as pernas que cresceram? Não há meios de alcançar seus membros inferiores. Tinha uma barriga no meio do caminho. No meio do caminho tinha uma barriga. Você tenta de lado. Além de não conseguir, inflama o ciático e tem uma crise de câimbra num lugar que vc nem imaginava que tinha um músculo… Aí você se rende: FRAAAAAANK. Chama o namorado que, muito carinhosamente, amarra seu cadarço. MAS EU VI O SORRISINHO NA CARA DELE, EU VI. E DEPOIS EU VI QUANDO ELE SE ESCOROU NA PAREDE DA ESCADA PRA SE MATAR DE RIR. EU VI! Não adianta negar, não adianta negar…

FATO 3: LUGARES QUE VOCÊ NÃO VÊ, MAS SABE QUE ESTÃO LÁ PORQUE UM DIA JÁ OS VIU (graças a Deus…)

Não vou falar sobre esse tópico.
Captou?

FATO 4: ACOSTUMANDO-SE COM A NOVA PROPORÇÃO

Até você se acostumar com sua nova quarta dimensão (ou quinta, ou sexta, isso é muito variável…), vai um tempo. Essa aconteceu quando a barriga já estava grandinha, mas ainda não pesava tanto… É como uma presença que você vê, mas só de vez em quando. Aí você lembra – E BEM – que ela está lá quando, cozinhando, você sente uma dorzinha súbita, dá um grito e um pulo pra trás, jogando a colher longe. O que aconteceu, gente? Queimei a barriga… Tá, aprendi. Tô crescendo pra frente.

FATO 5: ENTENDENDO A NOÇÃO DE ACESSIBILidADE

Eu sempre fui uma fiel e militante adepta das adaptações em prol da acessibilidade a pessoas com mobilidade reduzida. Mas depois que 4 pessoas que estavam comigo passaram por uma fresta em que qualquer ser humano de tamanho razoável consegue passar, enquanto eu tive que dar a volta lá na casa do carvalho porque entalei, passei a achar que É OBRIGAÇÃO DO GOVERNO ADAPTAR LOCAIS PARA TOOOOODO MUNDO. EU DISSE TOOOODO MUNDO. E ainda ter que administrar todo mundo se matando de rir da sua cara de “Não quero ouvir um pio sobre isso”……

FATO 6: EU SEI QUE TÔ GRANDE, TÁ?????

Estava eu na fila de um restaurante quando, na minha frente, uma mulher super bacana com sua mãe e sua filha deixa, graciosamente, para decidir o cardápio quando JÁ está no caixa pra pagar. E eu lá. Com dor nas costas e barriga pesando. Esperando. E a cidadã escolhendo se pedia o bife com molho shoyo acebolado ou se pedia um frango light. Aí a santa da atendente vê a minha cara de “Não tô me aguentando aqui” e diz pra moça: “Moça, enquanto a senhora espera, vou atendendo a próxima porque ela está grávida, tudo bem?” Ao que a simpática pessoa, com cara de intestino grosso, responde (com voz anasalada fica melhor pra entender…): “Mas eu também tô grávida, tá?” (e aponta uma barriguinha que eu tenho certeza até agora que era só de chopp). E a moça do caixa, perdendo a paciência: “QUER COMPARAR???!!!” – gritando… E completa: “ESSA MOÇA ESTÁ DE 9 MESES!!” E você não sabe se simula um desmaio, uma convulsão, se manda as moças à merda ou pede um arroz-feijão-bisteca-e-uma-dose-de-vodca… Eu adoro minha barriga. Amo de paixão a casa da minha Clara. Mas isso não dá o direito de ninguém me olhar como se ela estivesse se projetando para a terceira dimensão, catso! Ainda mais porque eu estava só no sexto mês… Gente indiscreta…

FATO 7: REZE PRA SER BEBÊ, MINHA SENHORA…

Caixa preferencial no supermercado. Fila (tenho uma teoria: coisas bizarras acontecem em filas, fuja delas). Eu de 5 meses e uma barriga considerável. De mau-humor. Aí vem uma senhora daquelas bem xexelentas, louca pra arrumar uma encrenca, saca? Que fica fazendo polêmica falando sozinha, como se o mundo estivesse preocupado em compartilhar da sua revolta íntima por um assunto irrelevante? Já tinha arrumado encrenca com dois, aloca. Não teve outra né? (Por que parece que quando a gente tá de mau humor vira para-raio de gente chata?). Me cutuca no ombro e grita: “Não tá vendo ali não que é caixa preferencial, minha filha?” – falando o “minha filha” sacudindo ozombrinho, saca?. Você já tá por conta do cão (essa quem é Moreiras vai entender bem), mas respira fundo, se vira num pé só e diz: “Olha, eu se fosse a senhora começava a rezar agora pra essa barriga aqui ser só de gases…”. Ao que a atendente de caixa grita de lá: “Ê, dona Odete, agora a senhora tomou uma, hã?”.

Bem, tenho aqui muitas outras passagens nada glamourosas que minha experiência gravídica me proporcionou. Embora tenham me causado constrangimento, ou saia justa, ou algum tipo de mico, digo e repito: que bom que aconteceram.
Porque todo filme, documentário ou minisérie tem seu making of, né?
Imagine se essa superprodução aqui não teria…
Passaria por mais um monte dessas. Na maior. Literalmente…
E mesmo que um monte de gente diga: CORTA! CORTA! eu digo: NÃO CORTO!

A imagem lá de cima é de um cartunista chamado Minêu e pode ser encontrada em http://mineu.zip.net/arch2006-04-01_200
6-04-30.html

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