Eu cheguei de viagem na sexta-feira, deitei e ressuscitei ao segundo dia. Que caiu num domingo. Dia das mães.
Cheguei exausta, física e mentalmente, com os pés inchados e uma dor lancinante nas costas.
Cheguei triste também, por não ter conseguido nesse concurso…
Voltei triste porque isso significa que, aos 8 e 9 meses de gravidez, ainda terei 3 pela frente…
Voltei com aquela tristeza que se tem quando se tem medo de não conseguir. De, talvez, não conseguir agora. Por simples limitação física…
Aquela tristeza que mistura cansaço físico, com cansaço psíquico, com cansaço de tudo acumulado. Passei dois dias só chorando, de cansaço mesmo. Sabe criança que tá exausta no final da noite, tá com sono, mas não quer deixar de brincar pra dormir e começa a chorar e nem sabe por quê? Assim…
Aí vem a mãe da criança e diz: filha, você pode ir dormir, não tem problema (minha mãe fazia isso comigo). E aí a criança vai dormir.
Meu namorado fez isso comigo, na sexta-feira: vai dormir, vai descansar, você precisa descansar.
E eu fui…
E dormi sexta e o sábado praticamente inteiro.
Sobre o concurso: infelizmente não foi nesse… Simplesmente porque aconteceu o que eu pedi durante todo o processo: que ele fosse justo. E ele foi muito justo. Em primeiro lugar ficou uma pessoa absolutamente preparada para ocupar o cargo. Tão preparada que, inclusive, já é professor da UNESP. Mas não é por isso que eu sei que ele é preparado. É porque eu acompanhei uma parte da formação dele. Porque nós viemos do mesmo lugar. Porque nós fomos muito amigos durante a graduação. E não vou esquecer do que eu senti quando vi que um grande amigo disputava a mesma vaga comigo… Sisteminha lazarento esse.
Mas se pra mim não deu, pra ele deu. E uma parte de mim está muito feliz por isso. Porque essa vaga, agora, está em ótimas mãos. Sorte dos alunos que o terão como professor. E porque também, a verdade seja dita, ele sofreu uma injustiça tremenda na última seleção e essa TINHA que ser dele.
A minha tristeza não era nem uma tristeza real. Era mais um desespero mesmo.
Desespero porque agora, obrigatoriamente, terei que encarar todos os demais concursos com minha barriga quilométrica…
E um emendado no outro. Um no fim de maio, outro no início de junho, e outros dois que estão abrindo inscrição agora.
E essa fase é realmente MUITO difícil. Muito difícil.
Num dos intervalos do concurso, encontrei um outro candidato. Eu nunca o tinha visto na vida. Mas de repente era como se fôssemos amigos e nos entendêssemos. Principalmente quando, num desabafo, ele respirou fundo, olhou pra mim e disse: “Puxa vida, como é difícil esse período né? Quanta dificuldade a gente tem que passar, justamente por termos estudado tanto?”. E me contou que esse já é o 6o. concurso que ele tenta. Casado, com família, sem grana… E tudo porque a gente estudou muito. E ele deu um suspiro que continha tudo o que gostaria de dizer, mas que não disse. E foi como se eu tivesse ouvido tudo.
É, colega. Como é difícil…
Se já é muito difícil tendo uma barriga retinha, imagina com um barrigão de 7, 8, 9 meses…
É, mas realmente ninguém disse que seria fácil…
Outro dia uma amiga disse – acho que já comentei aqui – que a Clara já está lá com a mochilinha dela pronta para as viagens. Ela sabe que a mamãe e o papai ainda vão pegar a estrada mais umas 2 vezes, no mínimo (enquanto ela ainda está na barriga), pra mamãe ir para os concursos. Sim, porque agora o papai vai junto. Meu namorado vai tirar uns dias de férias pra ir comigo, porque agora estou um pouco insegura de ir sozinha. Completei 7 meses de gravidez ontem. Teoricamente, agora começa a contagem regressiva. O duro é que a gente não sabe até quanto vai essa contagem…
Bom, mas aí eu acordei no domingo.
Fazendo 7 meses de gravidez.
Meu primeiro dia das mães.
Acordei e sininhos tocaram na sacada. Um mordomo veio me servir em bandeja de prata. Os lençóis de linho foram dobrados pela auxiliar doméstica. A lagosta ficou pronta exatamente ao meio dia. Massagistas relaxaram meus pés com cremes franceses e decoctos alemães e o mundo acordou rosa e músicas acompanhavam o meu caminhar.
Claro que não.
Porque eu sou uma mãe real.
Sou uma mãe que dá valor a outras coisas.
Sou uma mãe que terá que se adaptar às mil e uma utilidades sem muita gente pra ajudar.
Então ontem a noite eu parei pra pensar em como tinha sido meu primeiro dia das mães.
E foi ótimo (embora eu tenha ido dormir gemendo de dor nas costas…).
E por que, no fim das contas, foi ótimo?
Porque acordamos cedo. Eu ainda meio mal, chorosa…
Mas aí começamos. Tiramos tudo dos armários. Chegou o marceneiro. Ele desmontou o guarda-roupa com a ajuda do namorado que, com a ajuda do vizinho, desceu o sofá-cama de um dos quartos, que agora foi pra sala. Pó pra todo lado. Roupa espalhada em todos os cantos. Aí o marceneiro foi embora. Começa a guardar coisa. Roupa que não acaba mais. Trocentos pacotes de fralda. Arruma aqui, arruma ali, aspirador, namorado pendurado na escada, em meio à charge que precisava dar conta.
No fim da noite, dor nas costas da namorada e alergia do namorado.
Mas o resultado: a Clara já tem um quarto…
E o quarto da Clara já tem cheirinho de nenê.
Clara tem um quartinho só pra ela, que a mamãe e o papai fizeram.
Ainda tá uma bagunça, mas daqui a pouco eu vou pra lá, dar continuidade à arrumação.
E assim foi meu primeiro dia das mães.
Chateada por não ter conseguido passar no concurso.
Feliz por ter uma filha.
Feliz por ter um namorado que me apoia nessa doideira toda de vai pra lá, volta pra cá, com a nossa filha na bolsa do canguru, e que acredita em mim.
Feliz porque agora a Clara terá onde dormir.
Feliz porque eu sou uma mãe real.
E tive um feliz dia das mães, no fim das contas….
A Renner andou exibindo um comercial-homenagem aí, pelo dia das mães. E eu confesso que não tinha gostado muito, não, porque toca numa parte muito delicada para muitas mulheres, que querem tanto ser mãe e infelizmente não conseguem tão facilmente.
Mas hoje eu já não desgosto tanto do comercial, porque eu o entendi de um outro ponto de vista agora.
Mães reais não desistem mesmo. De ser mãe. De ser uma boa profissional. De atingir seu objetivo. De alcançar seu sonho. De chegar lá.
Mães reais são assim: elas choram mesmo. Elas ficam chateadas mesmo. Elas se sentem uó do borogodó muitas vezes. Sentem angústia, se apavoram, raspam com a unha. Mas depois elas vão lá arrumar as coisas pras crias; depois elas vão lá, preparar um curso pra dar; depois elas vão lá, marcar uma reunião pra mais tarde, porque conseguiram um encaixe no ultrassom…
Feliz dia das mães atrasado. Para as mães de verdade. Inclusive para as que ainda não têm filhos.