Eu amamento a Clara há 8 meses e 17 dias, desde o momento que ela saiu da minha barriga e veio pro meu colo. Ela é cheia de dobras, parece que tem dois joelhos, as perninhas cheias de gomo, barriguinha de Seu Boneco e é muito saudável, nunca ficou doente – eu acredito que isso se deve não só à amamentação exclusiva mas ao tipo de vida que ela tem, a ser cuidada exclusivamente pelos pais, por dormir com a gente, ser carregada sempre juntinho com a ajuda de slings e outras coisas que optamos conscientemente por fazer. E amamento em livre demanda.
O que é amamentar em livre demanda? É uma coisa super fácil de entender: mama quando quer! Sem essa de marcar horário. Eu trabalho fora algumas horas do dia desde que ela tinha 4 meses. E mesmo assim conseguimos manter a livre demanda. Como? Eu tiro leite todo dia quando chego do trabalho e armazeno em potinhos de vidro esterelizados. O papai dá pra ela no dia seguinte, na hora que ela quiser.
Depois do nascimento dela, pra ajudar na minha adaptação à nova vida, eu sempre me forcei a sair com ela de casa. No início era difícil pra mim, mas eu me forçava. E sempre digo pras novas mães: não fique entocada em casa. Vai passear! Vai ver a vida! Leve o bebê grudadinho em você com um sling, mas vai passear! A gente vive muita coisa em pouco tempo, depois do parto, e pra tristezinha virar bicho grande é um pulo. Então vai passear! Além disso, eu queria que minha bebê se inserisse no tipo de vida que eu tenho, porque achava que isso seria bom pra mim e bom pra ela. E acertei! Hoje ela sai com a gente na maior, não estranha lugares, praticamente não estranha pessoas e dorme no sling onde quer que eu esteja.

Nessa de sempre estar com ela na rua, e amamentando em livre demanda, é lógico que eu tenho que amamentá-la em diferentes lugares, né?
Então eu vim aqui fazer parte da blogagem coletiva sobre Tetofobia Amamentícia (que também aceita a variação TetAfobia Amamentícia) – nome que criamos para designar a condição que acomete pessoas que não gostam de que as mulheres amamentem em púbico.
Pessoas que tem problemas!
Pessoas que acham que não tem problema ver bunda e peito na tv, a globeleza sacundindo peitola, big sister fingindo que saiu o biquini pra mostrar, gente hipócrita.

Aí, vim aqui pra dizer: SIM, EU AMAMENTO EM PÚBLICO. Vem aqui me peitar se for macho!

Saibam que, aí pelo mundo, nos países dito desenvolvidos (oi?) tem gente proibindo a amamentação em público.
Quer ver como tem? Ainda bem que não são exemplos brasileiros, mas só depende da gente isso chegar até aqui. Quem me mandou a dica desses textos foi o Cesário, leitor do blog e que leva o nome do meu avô tão querido que nos deixou em 2002. Se quiser ler as matérias e se indignar também, é só clicar aí:

Mãe é expulsa de lanchonete por amamentar.
Mãe é expulsa de avião por estar amamentando.

Quer dizer que peito na tv pode? Quer dizer que pagar peitinho pra ficar pop, pra ficar nacionalmente conhecida, pode? Quer dizer que chacoalhar peito e bunda no carnaval pode? E amamentar gera constangimento?! Constrangimento gera olhar pra bunda da mulher quando ela passa, isso sim gera constrangimento. Constrangimento gera ser idiota.
Tem gente que acha feio amamentar em público.
Eu também acho feio um monte de coisa.
Acho feio calça santroxana (aquela que tem cintura tão baixa que quase aparece o pelo pubiano da pessoa); acho feio calça saruel, aquela que parece que não deu tempo de chegar ao banheiro; acho feio maquiagem excessiva, aquela que deixa a mulher a cara do Arrelia; acho feio um monte de coisa e nem por isso vou encher o saco da cidadã. “Vem cá, filhinha, precisa desse reboque todo na cara?!” eu poderia dizer, mas tenho mais o que fazer. Aí vem esse povo dizendo que “amamentar em público é chato”. Chato é você, que com certeza tira catota do nariz em público achando que ninguém tá vendo. É porque existem pessoas como você, que precisam fazer update nas ideias, que muitas mulheres se sentem incomodadas em amamentar em público. É porque existem pessoas como você que muitas mulheres deixam de sair pra passear com filho que mama no peito, porque sentem que “estão atrapalhando”, ou “fazendo algo feio”.
A decisão de amamentar não deixa de estar vinculada aos valores da pessoa e ao que ela pensa da vida. Mas muitas vezes é influenciada pela cultura, por gente bacana ou por gente escrota. Eu já indiquei esse artigo aqui e indico novamente: “O aleitamento na prática clínica” por Elsa Giugliani. Ela diz uma coisa muito importante:

“Apesar de ser biologicamente determinada, a amamentação sofre influências socioculturais e por isso deixou de ser praticada universalmente a partir do século XX. Atualmente, a expectativa biológica se contrapõe às expectativas culturais. Algumas conseqüências dessa mudança já puderam ser observadas, como desnutrição e alta mortalidade infantil em áreas menos desenvolvidas.”

Então, destino um pouco do meu tempo a você, pessoa esquisita que sofre de Tetofobia Amamentícia, pra te dizer: repense seu comportamento. Analise o que, realmente, te leva a se sentir desconfortável com o ato de amamentar. Pergunte-se: “por que me sinto assim tão desconfortável?”. Você vai ficar tão deprê com a resposta que vai encontrar no fundo do seu EU que vai passar o resto da vida em análise, tomando antidepressivo e vai deixar a gente, que AMAMENTA EM PÚBLICO, amamentar em paz! E pra você, ser que se acha descolado, vai esse videozinho ali em cima. Bizarro que nem tu, tatu.

Salve Elvira, a Rainha das Trevas!
De gente bizarra, me basta ela.

PS: eu e minha irmã Livia passamos uma vida (saca, uma vida!) falando e rindo dessa cena do filme!

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