Perdi as contas de quantas vezes ouvi essa frase nessa última semana, de pessoas de diferentes lugares falando sobre diferentes assuntos. Bem, a questão é: saiu a minha bolsa para pós-doutoramento. Saiu agora, essa miserável. Me deixou passando aperto durante 1 ano pra sair exatamente quando minha filha completa 2 meses. Uma outra mulher, contemplada com dotes financeiros avantajados, mandaria essa bolsa pra casa do Bulhões de Carvalho (piada interna que meu namorado anda falando aqui em casa nos últimos dias) com a consciência mais leve que a Carolina Ferraz em propaganda de adoçante. Mas não é o meu caso. De forma que tenho começado a sair alguns dias e ficado 3 ou 4 horas fora, no período da tarde. Eu fico com a filhota de manhã, namorado a tarde, eu a noite novamente pra ele poder trabalhar. Foram 3 dias essa semana. PÂNICO ABSOLUTO! Nesses três dias não houve um único momento de paz de espírito pra mim. Saí de casa chorando, levei um tempo pra me recuperar, não consegui produzir nada porque minha cabeça fica em casa com ela e tenho me sentido o ser mais idiota da face da Terra. Mas, infelizmente, no momento não tenho outra opção. Porque se tivesse, juro que jogava tudo pro alto e ficava em casa cuidando do que realmente vale a pena… E não vou mentir não: estou quase fazendo isso. Minha gastrite voltou, tô com uma insônia monstro e choro só de pensar no assunto. Claro que o terceiro dia foi melhor que o primeiro. Mas mesmo assim… Tá foda. Ponto final.
Deixo leite com o papai para o caso dela querer mamar desesperadamente. Graças a Deus ainda não foi necessário usar… E agora estamos procurando outra casa para que eu fique mais perto da universidade. Vou te contar: nenhuma mãe deveria passar por isso. Nenhuma. Mas pode ser que seja apenas uma fase de transição. Pode ser… vai saber.
Aí aquela frase lá de cima tem entrado em diversos contextos.
Contexto 1) – As pessoas me vêem de volta ao departamento e perguntam: mas e a Clara?! E eu: ela está ficando com o pai na parte da tarde. E as pessoas: “como você consegue?!”.
Contexto 2) – As pessoas me perguntam: com certeza você tem uma ajudante em casa pra dar conta da casa, da bebê, de você e ainda estar voltando pra pós-doutorado, né? E eu: não. E elas: “como você consegue?!”
Contexto 3) – Ahh, mas você tá com uma cara boa. Sua mãe ou sua sogra com certeza estão te ajudando nessa né? E eu: não. E elas: “como você consegue?!”
Então eu vou responder pra todo mundo junto:
Tem dias que estou mais explosiva que a Faixa de Gaza. Cansada, tensa e preocupada.
Sou só eu e o namorado, tentando nos virar, sem mais ninguém pra ajudar. Só os dois no maior caos.
E eu ainda tive que ouvir um discursinho lazarento sobre “me desprender, me acostumar” ou “lembrar que sou doutora”.
Sabe qual a relevância do meu título de doutora perto da importância da minha filha pra mim: ZERO!
A minha vontade era desprender a cara desse ser de cima do pescoço…
Minha filha tem 2 meses, cara!! Quer que eu me desprenda? Vai ver se eu tô em Serra Leoa! Desprende você do seu corpo e vai!
Se eu pego a barraqueira que queimou o primeiro sutiã, eu bato até criar bicho!
E me larga que eu tô calma!!