Hoje me toquei que estou com síndrome de abstinência.
De sala de aula.
Não dava aula desde novembro, quando terminou meu contrato com a UFSC. Sabia que tinha algo me incomodando muito, mas não sabia direito o que era. Aí um colega me convidou pra dar uma aula hoje, pra Biologia, sobre Plantas Psicoativas.
….. aí me toquei do que está me faltando…
Eu saio da sala de aula com a sensação de que tudo está certo no mundo, com a sensação de que estou onde deveria estar.
Sabe… NÃO VEJO A HORA DE VOLTAR À ATIVA!
Pronto, falei!
Isso estava aqui engasgado.
Como alguém que gosta tanto de ensinar pode ficar fora de uma sala de aula??
Eu devia processar alguém!!
ISSO DEVIA SER ENQUADRADO COMO CRIME!
Pronto, passou…
Pra mim, esse mês de maio terá um baita significado.
Não só porque será o meu primeiro dia das mães como mãe…
Por uma questão profissional também.
Dos três concursos que vou tentar pra professora de universidades públicas, dois já tiveram datas marcadas.
Um no começo, um no fim. De maio.
Toda vez que penso nisso, já vem a taquicardia, já vem a ansiedade, já vem uma dor de barriga. Literalmente.
Má nem com filosofia zen budista e prática de meditação transcedental e tentativas sucessivas de alcançar o nirvana eu vou conseguir me tranquilizar, nem tente falar sobre isso comigo…
Mas não é um nervosismo ruim. Não é uma ansiedade má. É algo assim como um dia muito esperado na sua vida.
Deixovê…
Algo como o primeiro natal do qual você se lembre, da ansiedade de ver o papai noel, aquela criança que treme as mãozinhas e nem consegue falar quando ele chega… Mais ou menos isso.
Há algum tempo, saiu uma pesquisa sobre a posição do Brasil na área de Ciência e Tecnologia. O estudo diz que o nosso país passou da 28a. posição para a 17a. no ranking mundial de produção científica, na frente de países como Bélgica, Escócia e Israel. Mas tem aí um dado importante: essa produção científica foi medida em termos de elaboração de artigos científicos.
Aí eu pergunto: quem produz mais de 90% desses artigos científicos?
As universidades públicas.
E qual a função, na teoria, da universidade pública?
É ensino, pesquisa e extensão.
E qual é a posição do Brasil no ranking de desenvolvimento educacional?
Não quero nem responder, porque me deprimo… Sou facilmente emocionável, sacomé.
Então, por favor, me responda: por que o Brasil está tão bem posicionado com relação ao desenvolvimento científico e tão vergonhosamente situado entre os países com menores índices de educação?
Não parece que tem algo estranho aí?
Eu queria saber por que, dentro da universidade, tanto status, tanto mérito e tanto bafafá e gerado em torno do desenvolvimento científico e tão relativamente pouca atenção é dada à qualidade do ensino.
Quem tá falando isso? Quem tá falando que é assim?
Eu tô falando que é assim.
Não vou nem abrir parênteses, colocar um sobrenome e o ano em que o fulano falou isso, me eximindo da responsabilidade do que eu afirmei (funciona mais ou menos assim, esse negócio de referenciar…).
É assim.
Se você é ou foi aluno de curso superior, ou é professor e tem senso crítico, sabe que é assim…
E olha que já passei pelas melhores universidades do país…
Já perdi as contas de quantas vezes já ouvi alunos dizendo que tais professores, das mais variadas áreas do conhecimento, são péssimos educadores, quando a gente, que trabalha também dentro da ciência, sabe que o cara é ótimo pesquisador e publica mais do que os cabelos que tem na cabeça… Tem um puta nome dentro da sua área, mas os alunos preferem ver o capeta do que ter aula com ele.
Prezados senhores membros das bancas de concursos: favor certificar-se de que, além de um bom currículo e bom projeto de pesquisa, o candidato à vaga de docente tenha absoluto amor pelo que faz.
Tudo bem que ele tenha 237.845 artigos publicados.
Mas, por favor, tente captar os sinais que indicam se ele gosta ou não de dar aula.
Porque sem isso, meus caros, não há a menor chance de um trabalho ser bem feito durante uns 25-30 anos de carreira…
Ah, droga. Esse post era pra ser uma coisa descontraída, mas acabou ficando sério…
Paciência.
Tem coisa que me revolta nas profundezas do meu útero ocupado e, como minha língua é grande e esse blog é meu, não consigo deixar pra lá.
Dar aula no ensino público superior não deveria ser pra quem pode, ao contrário do que diz o ditado. Deveria ser pra quem quer.
Porque poder, qualquer pessoa com título de doutor, pela lei, pode.
Mas querer, é uma coisa beeeeem diferente.
Ahhh. Eu adoro dar aula…
Por n motivos.
Só pra não perder a piada, saca só, o Rubem Alves explica procê.
“A inteligência se parece com o pênis“.
Porque quem disse que pra falar de coisa séria, a gente precisa ser sisudo?
E olha que eu nem vou cobrar pela dica de didática e metodologia de ensino…