Hoje a Clara tem um pediatra que é show! Ele é super preciso; explica tudo o que é importante saber; se interessa pelo bem-estar tanto da criança quanto dos pais; pergunta da rotina e da amamentação; dá dicas sobre o que fazer quando eu estou cansada; não fica noiando a cabeça da mãe; é super observador e atento; quando tem dúvida sobre alguma coisa sugere que a gente vá em outra especialidade pra investigar (e ajuda a arrumar consulta pra isso); é delicado com a bebê e – muitissíssimo importante – sempre saio com as mãos abanando das consultas. O que significa que ele não fica medicando sem necessidade.
Mas foi o CÃO chegar até ele! O CÃO!
Cada bizarrice que a gente passou que nem dá pra acreditar…
Todo mundo dizia que era pra arrumar pediatra antes dela nascer. Mas quem disse que no final da gravidez eu tinha pique pra isso? Acabei deixando pra depois do nascimento. A gente conta o que passou e o pessoal acha que é piada. Quer ver?
Médica 1: marquei uma pediatra bem pertinho aqui de casa, numa clínica que eu já conhecia e onde fui consultar antes de saber que estava grávida. A médica até que bem bacaninha. Até que abriu a boca e disse: "Você dá chupeta pra ela? Não?! Tem que dar, tem que dar!". Nessa época, o pai da Clara ainda era a favor de dar chupeta. Mas eu já havia deixado muito bem estabelecido que não queria oferecer a chupeta porque não havia nenhuma necessidade real, concreta. Aí a médica perguntou pro ele: "Você é a favor?" e ele: "Eu sou, quando ela estiver chorando" e ela: "Pronto, perdeu. São 2 votos contra 1". COMO ASSIM? Ninguém te deu direito de voto, amiga, fica calma. Quem sabe da criança é a mãe e o pai, certo? Certo. Legal. E, claro, quem perdeu foi ela: saímos de lá e nunca mais voltamos. Ainda mais porque ela queria que eu passasse uma pomada antibiótica na Clara, pra prevenir alguma desgraceira que ela disse lá na hora. Como se antibiótico fosse coisa profilática. Tchau! BeijoNÃOmiliga.
Médica 2: eu soube que na clínica onde fiz meu pré-natal, e onde sempre fui muito bem atendida e que conta com um grupo muito bom de profissionais da área da saúde, tinha uma pediatra. Pensei: "Numa clínica boa dessa, essa pediatra deve ser boa também. Vou ver qualéquié". Marquei e levei. E se arrependimento matasse eu tinha caído dura e seca na frente dela mesmo. ELA TAVA BÊBADA!!! Não é brincadeira isso, nem exagero, nem força de expressão, é sério mesmo. ELA ESTAVA BÊBADA, CARA… O pai da Clara estava junto, ele pode confirmar, pois ficou totalmente chocado tanto quanto eu. Não tenho nada contra pessoas bêbadas. MAS PEDIATRA EM HORÁRIO DE ATENDIMENTO? Minha senhora, mas o quê é isso?!
Entrei, ela pediu a caderneta de saúde da Clara, ficou copiando coisas por MUITOS minutos, nem olhava pra gente. E aquele silêncio constrangedor. E eu e ele nos olhando com cara de piada… Aí ela vai examinar a Clara. Levanta da cadeira e dá uma cambaleada. Chega perto da gente e… bate aquele cheiro de álcool, de cachaça! Eu repito pra vocês: NÃO ESTOU BRINCANDO. A coisa era escancarada, maior legaláize. Tô falando assim em tom de brincandeira, mas gente… ISSO É MUITO GRAVE. Eu nem sei como não dei um barraco ali mesmo. Acho que foi porque minha filha estava junto. Aí vai examinar a Clara. Não deixo, peraí, deixa que eu pego minha filha, ela olha e já vai mandando: "Tá com uma bolinha aqui, vou receitar uma pomadinha que é ótima"… Eu já estava em outro planeta, só ouvi o nome de uma pomada pra assadura (assadura!!) e já queria ir arrumando as coisas pra cair o fora dali o quanto antes. Aí eu tive a brilhante ideia só que não de perguntar pra ela: "A senhora é homeopata ou alopata?", pra sacar se estava mesmo alterada. Eu já sabia, mas queria confirmar. E a pessoa alcoolizada: "Eu sou homeopata. Não, sou alopata. Ou sou homeopata? Nossa, me confundi". Eu olhei pro pai da Clara e ele tava pra morrer de tanto segurar a risada. Aí ela mediu a Clara, mas não marcou na caderneta. No fim da consulta, eu e minha boca grande, com minha língua que não cabe dentro, resolvi perguntar: "Quanto ela tá medindo?". E a pessoa alcoolizada: "Eu medi? Eu acho que não medi. Medi? Não lembro…". Pô, aí não deu, aí chegou, aí acabou né? Deu. A consulta terminou. Saí da sala desembestada e o pai da Clara rindo do absurdo da situação atrás de mim. E a mulher sem noção ainda veio atrás pra dar um abraço de tchau!! Gente? Me abana? Claro que a deixei no vácuo e saí o mais rápido que pude pra evitar uma confusão das grandes. Até hoje não sei como me segurei, acho que foi o choque da situação absurda… No dia seguinte, liguei pra clínica e fiz uma senhora reclamação. E sorte dela que não liguei pro CRM. Preferi fazer menos barraco e deixar que a clínica mesmo se livrasse daquele problema. TEM CABIMENTO? Não, é óbvio que não tem.
Médica 3: Nós já tínhamos encontrado o pediatra da Clara, mas aí uma noite ela chorava muito, agitava os bracinhos de tanto chorar e estava quentinha. Resolvemos levá-la, por via das dúvidas, numa clínica que dá plantões noturnos. Uma médica nos atendeu e disse que ela estava com refluxo. Sim, nós já sabíamos que Clara tem refluxo, mas o pediatra dela, depois de examinar muito, não viu nenhum indício de que esse refluxo estava atrapalhando seu desenvolvimento. E todo refluxo em bebês é fisiológico, só se deve entrar com tratamento farmacológico no caso do bebê não estar ganhando peso adequadamente, por exemplo. A mulher nem mediu a temperatura da Clara, mas não teve a menor dúvida ao receitar paracetamol. Ela nem sabia se a Clara estava com febre, não encostou na criança, minha gente, meu povo, e já saiu prescrevendo. Mas isso não foi o pior. O pior vem agora. A frase desta moça: "Olha, quando ela ficar chorando sem motivo, não espera muito não. Dá logo paracetamol. Chorou, dá paracetamol. Porque paracetamol dá uma tranquilizada também, nos bebês". Para não ofendê-la com um bom palavrão bem empregado num momento desses, levantei-me, bebê no colo, olhei e disse: "Anos de graduação pra isso? Inacreditável". Saí desembestada. Mais uma vez.
Gente, sério. Serião mesmo. O que estão ensinando nos cursos de Medicina? Certamente não o acolhimento a seres humanos. Certamente não princípios básicos de acolhimento.
Por isso que eu sempre digo: muito cuidado com esse negócio de levar criança ao médico por tudo. Tem sempre uma encrenca solta por aí. Sim, porque isso não é profissional. Isso é ENCRENCA. Claro que tem médico bom, não estou discutindo isso. Mas digo sem medo de errar: a maioria se deixa levar pela febre da prescrição desenfreada, principalmente de antibióticos, antialérgicos e corticoides. É medicalização primeiro, cuidado depois. E uma coisa não é a mesma coisa que a outra e se você acha que é… Bem… Tá na hora de procurar mais informação e atualizar o sistema.
Mais uma coisinha: médico é como você, é como qualquer pessoa. E o modo como cada um se dedica à profissão que segue não tem nada a ver com o curso que fez. Nunca aceite sem questionar alguma coisa que tenha sido dita apenas porque a pessoa é da área da saúde. Eu me formei onde tinha curso de medicina. Fiz mestrado onde tinha um curso de medicina. Fiz doutorado onde tinha um curso de medicina. Lecionei Fisiologia no curso de Medicina. Por isso posso dizer: tem gente que não leva a sério, como em todo lugar. Tem gente que está lá por qualquer motivo, menos por compromentimento humano.
Quando conhecer um médico, pergunte sempre à sua intuição de mãe: essa é uma boa pessoa?
Se não parecer ser, corra sem nem olhar pra trás!
Às vezes dá pra entender bem de onde Robert Louis Stevenson tirou inspiração pra sua obra mais famosa…