O texto e o vídeo a seguir são, sobretudo, para filhos. Esses que um dia também podem virar pais, como nós.
Abra sua mente. Leia a mensagem abaixo, que é a tradução do que está no vídeo, aumente o volume e o assista. Não pense como mãe ou como pai. Pense como filho, com todas as experiências que você viveu como tal. É profundo e verdadeiro.
A partir do momento em que chegamos ao mundo e desde os noves meses anteriores, temos uma necessidade: apego.
Mas, como bebês, não sabemos que apego pode significar outra coisa para nossos pais, dependendo de suas próprias histórias de criação.
Talvez os pais deles fossem desdenhosos…
Indisponíveis…
Avessos a emoções…
“Não chore!”
“Nesta casa não sentimos raiva”
“Não falamos sobre nossos sentimentos”
“Não seja bobo”
“Tá bom, filhinha, tá bom”
“Agora eu não tenho tempo”.
Talvez fossem imprevisíveis:
Calorosos e frios,
Aceitando e rejeitando.
Talvez alguém que eles amassem fosse assustador, alguém em quem eles não podiam confiar…
E, então, aprenderam a se afastar da pessoa de quem mais precisavam.
Aprenderam a fechar seu próprio coração.
Mas então você nasceu…
E todo o amor que eles tinham em seus corações estava lá… pra você…
Porque te amavam com todo coração… mas também com suas histórias de infância.
Eles não eram perfeitos…
E, agora, você pensa que deve levar adiante essa mesma história… Agora como pai, para seu próprio filho.
“Eu não queria ter dito isso”
“Sinto que estou estragando tudo”
“Eu não quero que meu filho se sinta afastado”
“Eu me sinto tão falho…”
“Não desejo toda essa culpa”
“Sinto que não mereço ser sua mãe”
Conheça sua própria história.
Você não precisa ser perfeito.
São justamente nossas conexões, desconexões e religações que ajudarão a criar resiliência em nossos filhos e curarão nossos próprios corações.
É assim que você dará sentido à sua própria história…
Não é o que aconteceu no seu passado que será o melhor para seu filho.
A criação com apego não é um estilo.
Não é uma forma de cuidado parental.
Não é uma fórmula, nem uma garantia.
É a biologia do amor, um conceito mental, o coração do relacionamento.
É a bússola que nos diz quando estamos perdidos…
E que nos traz de volta para casa.
Mesmo muito tempo depois de nossos pais terem nos deixado ir.
A criação com apego nos faz crescer.
E nos cura.
Apego.
Uma palavra. Dois significados.
Muito se tem falado ultimamente sobre desapegar-se. Desapegar-se no sentido de não se agarrar a bens materiais, a condições de vida, a pessoas – com a conotação de “não se apegue, deixe-o ir” -, a objetos, a ideais, a emoções e padrões de comportamento. Visto por esse prisma, o desapego é uma coisa boa, é algo a se conquistar. Evita sofrimentos, evita falsas ideias de segurança, evita a paralisação, estimula o crescimento e nos faz ponderar melhor sobre as coisas.
Mas apego também tem outro significado. Apego também é: sentimento de afeição, sentimento de simpatia por alguém, afeto, amizade, amor, benevolência, pergunte para os dicionários… Por esse prisma, portanto, o apego é algo muito bom, que todos nós buscamos. Quem não quer ser amado, ser tratado com afeto, com benevolência, com solicitude, com empatia?
Em um texto anterior – A criação com apego e a neurociência – falei sobre o que é o attachment parenting que, em português, tem a tradução não muito precisa de “criação com apego“. Digo que não é muito precisa porque, ao utilizar uma palavra com duplo sentido, damos duplo sentido também à expressão.
É muito importante que se esclareça que a criação com apego se refere à segunda conotação mencionada aqui. É uma criação baseada na hipérbole do afeto, na entrega, no amor, na empatia, na disponibilidade, na presença, na reciprocidade, na compreensão. Não no rancor, na doutrinação, no querer ensinar alguém à força, no entendimento de que existe um superior – o adulto -, que deve ser obedecido, e um inferior – a criança, que não tem voz.
Portanto, quando dizemos “criação com apego“, não estamos falando em criar crianças negativamente dependentes dos pais, despreparadas para a vida, apegadas a bens físicos, muito pelo contrário.
Estamos falando de crianças amadas com tal entrega, dedicação, presença e disponibilidade que isso as torna seguras. Quanto mais sabemos que alguém está ali para nós e, junto com ele, está também o seu amor, mais seguros nos tornamos. E segurança emocional traz coragem, firmeza nos passos pelos caminhos da vida, tranquilidade e paz interior.
Quando alguém diz que não gosta dessa ideia de criação com apego porque isso tende a criar pessoas inseguras, carentes, dependentes, não faz a menor ideia do que está falando.
Quando alguém diz que criação com apego não estimula a independência e a responsabilidade, não faz a menor ideia do que está falando. A criação com apego gera exatamente o oposto.
Inseguro se torna quem sabe que não adianta chamar pelo pai ou pela mãe que não será atendido; carente se torna quem recebe negativa ou desprezo no lugar da presença e da disponibilidade; dependente se torna quem não se sente confiante o suficiente para desprender-se. A falta de amor gera crianças introspectivas, cruéis, violentas, praticantes de bullying, preconceituosas, agressivas.
Algumas pessoas dizem, ainda, preferir criar filhos com uma certa distância emocional por saberem que a separação é inevitável, seja a curta separação da esc
olinha, seja a separação que a idade adulta, de uma forma ou de outra, traz. Se pensarmos assim, ninguém mais amará ninguém, ninguém mais buscará a união, a parceria, a comunhão, porque sabemos que, mais cedo ou mais tarde, todos nos separaremos.
A questão é: o que você quer fazer com o tempo de proximidade que lhe é concedido, seja na vida em geral ou como mãe ou pai? Quer criar filhos com afeto, dedicação e presença ou prefere criá-los com uma dose de afastamento para evitar o (seu) sofrimento? Optando pela última, você está, além de iludindo a si mesmo, aumentando a possibilidade daquilo que quer evitar: o sofrimento. Nós nos queixamos diariamente pela forma como as pessoas em geral estão se comportando: com individualismo, egoísmo, egocentrismo, falta de empatia ou compreensão.
Mas esquecemos que é desde a infância que isso está sendo estimulado.
Quando nos tornamos pais, temos a grata oportunidade de ajudar a mudar o mundo.
Pelo nada simples fato de que criar boas pessoas para o mundo é ajudar a melhorá-lo.
Para quem diz “Não deposite sobre mim essa responsabilidade”, eu digo: não fuja dela. Isso é o que de melhor você pode fazer não só por seus filhos, mas por todos, inclusive, e principalmente, por você. Porque criar filhos com amor ajuda a ressignificar a sua própria história.
(Livre-tradução do vídeo: Ligia Moreiras Sena)