Estava eu aqui muito concentrada trabalhando, tranquila por ter minha filha no campo de visão.

Na última olhadinha que dei nela, há cerca de míseros 5 minutos, estava ela bem contente, cantando, enquanto desenhava com giz de cera sobre a mesinha que a dinda deu.
Concentrei e mandei bala no texto. No som de fundo, comecei a ouvir um chiadinho, ric ric ric ric, misturado com um ô-o, á-a, ô-o, á-a. Percebi que ela estava feliz onde estava, fazendo o que estava fazendo, e continuei no texto.
E então, cinco minutos depois:
RA-BIS-COU  TO-DA  A  PA-RE-DE COM GIZ DE CERA, patacaparéu… (é pra ler assim mesmo, na base da pausa).
Levantei e “Clara, filha, com tanto papel aqui, foi riscar logo a parede?!”.
Veio lá de dentro o pai dela, olhou, mãos na cabeça, cara de “ferrou!”, que foi logo substituída por uma cara de orgulho. Sacomé, o cara é desenhista, acha leendo… Foi lá e click, pegou essa cara linda aí de cima, da Jackson Polock mirim em êxtase com sua obra.
Aí vai a mãe aqui. Para o texto, pega aquele produto de limpeza com nome de tablóide de imprensa marrom, pega o pano, esfrega-esfrega-esfrega. Não faz a menor diferença.
Aí vai o pai com a borracha e, com umas 28 esfregadas, consegue remover 5 milímetros do desenho.
Aí vai a mãe com a água sanitária, criança lá pra dentro porque o cheiro é forte, adeus unhas, e manda ver na força no braço da ex-jogadora de vôlei aposentada por 2 ligamentos de joelho a menos.
Nada.
Sai a jogadora e entra a autora de material didático de ciências. É giz de cera. Cera é solúvel em que mesmo? Em gordura. Então deve sair com detergente.
Vai lá a mãe, pega a esponja, o detergente, dá uma esfregadinha e… parede limpa de novo para alegria da família!
Quer dizer… mais ou menos.
Acho que ela não gostou não…
Então, já sabe: rabiscou a parede com giz de cera? Detergente nela!
Já pensou quanta palmada a galerinha já levou por isso, por puro desconhecimento da mãe?!
Informação é tudo, filhinha…

Nota de esclarecimento: essa carinha de contrariada não foi por nós termos apagado os desenhos da parede, não. Obviamente foi uma encenação. Essa carinha faz parte de um código só dela com a vovó. Ela parou na frente da parede, eu disse a frase chave, ela fez a carinha que é pra vovó e eu cliquei. Deu uma composição que parece real mesmo… Dez minutos mais tarde, ela pegou o giz de cera, preto dessa vez, e fez mais uma rabisqueira. Mas ela mesma, na sequência, pegou um papelzinho e fingiu que tirava. Porque ela sabe que não dá pra rabiscar todas as paredes da casa. Dessa semana não passa a compra de um rolo de papel pra forrar algumas paredes pra ela ficar à vontade. Porque ninguém merece querer desenhar e expressar seus dotes artísticos e a censura não permitir, né?

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