Ela cresceu muito nesse último mês.
Fala muitas palavras e a cada dia aparece com novas.
Já fala mamãe, papai, auau, bolo, bola, lião (leão), mamá, papá, ádu (água), ádu (suco), ádu (qualquer coisa pra beber), inha (uvinha), paia (praia), vovó, vovô, sissí, (xixi), cocô, Lilo (Murilo), Taetano (Caetano), Íla (Sheila), Inho (Fabinho), Caetauau (auau do Caetano), Bebé, Titia.
Canta o “ô-ô” e o “á-á” do refrão de “Santa Clara clareou”.
Anda, corre, vira cambalhota na cama.
Atende o telefone, inclusive quando ele não toca.
Já passou alguns dias sem fralda e avisou que fez xixi.
Acorda todo dia e, ao abrir a janela do quarto, levanta os bracinhos pra comemorar um “bom dia, cotovia!”.
Dá tchau pra praia, dá tchau pro sol se pondo, dá tchau quando quer ir embora de algum lugar.
Diz um “oi” a cada 5 segundos – é sua marca registrada.
Diz “bô” quando acaba alguma coisa e quando não quer mais comer.
Dança com música, dança com batuque, dança com assobio, dança até com louça que cai dentro da pia.
Chama crianças de nenê e as adora.
Chora muito ao ver outra criança chorando, puro sentimento de classe.
Gosta de livros, larga o que está fazendo se algum lhe é oferecido.
Toma café da manhã como gente grande, almoça como gente grande, janta como gente grande.
É apaixonada por frutas, principalmente melancia e pêssego.
Continua não gostando de comidas com consistência de purê.
Quando está com sono, deita onde está – no chão da sala, no chão do quintal, no sofá, até na mesa, bem resolvida.
À noite, ainda acorda algumas vezes e, nessas horas, só quer a mamãe.
Gosta de dormir abraçada, com as mãozinhas no meu rosto. Vez ou outra abre os olhinhos, sorri, diz “mamãe” e volta a dormir.
Imita cara de formiga e faz uma cara pra vó que ninguém entende porquê, mas faz. E só pra vó. É o código delas.
Não pode ver um computador ligado que pensa que é a vovó quem está lá em chamada de vídeo, e diz “oi, oi, oi”, até que se explique que não é a vovó.
Chora quando o vovô vai embora…
Fala ao telefone – real, de brinquedo ou imaginário – grande parte do dia, em infindáveis ligações interplanetárias que não fazemos a menor ideia de pra quem é.
Tem inexplicáveis cabelos lisos e claros que já estão passando o comprimento do pescoço.
Tem ataques de beijos, e me beija muito muito muito.
É apaixonada pelo personagem Peixonauta e já deu mamá pra ele no peito.
Adora balanços e a sensação de voar.
Quando dorme, fica muito parecida com minha irmã que partiu – inexplicavelmente, já que não éramos irmãs de sangue.
Sabe aproveitar a vida, deita e relaxa em qualquer lugar que esteja.
Tem expressões faciais que lembram muito minha irmã caçula quando era criança (percebi isso esses dias, vendo fotos antigas).
É muito parecida comigo fisionomicamente. Mas continua com o bico do pai.
Adora água e, bobeou, se joga na piscina.
Chega na praia e corre pro mar, sem o menor medo de qualquer coisa.
Ela continua sendo cuidada somente por nós, continua andando com a gente em slings e dorme neles quando está com sono, continua dormindo perto da gente e mamando no peito.
Ela é sorridente, calma, segura, de bem com a vida, não apresenta qualquer comportamento de medo, topa qualquer parada e parece saber que o mundo é cheio de coisas boas.
Está, nesse momento, com dois caninos despontando, que faltam para completar seu sorriso tão frequente, e que a estão incomodando um pouquinho.
Ela é a minha Clara, que está completando 1 ano e meio hoje. Ela é a nossa Clara, a Clara da Ligia e do Frank. Essa menina sorridente e segura a quem amamos, de quem cuidamos, a quem criamos com o máximo do amor, do desvelo e da dedicação. Nos desdobramos em dezenas de nós mesmos para que ela tenha o nosso melhor, e nossas vidas têm sido desenhadas em função dela.
Ela trouxe beleza pra minha vida e por ela eu sigo mudando.
Clara é o melhor dos meus dias. Olhar pra ela me dá força, coragem, paz, esperança, segurança e a certeza mais plena de que ter um filho é um privilégio grande, é uma condição especial, é uma oportunidade única. Hoje sei que não seria realmente feliz se tivesse passado por essa vida sem ter essa experiência. E, o que é pior: eu nem saberia disso…
Não tenho como não ser grata à vida por ter me dado a insubstituível oportunidade de mudar de caminho e de ter me tornado mãe da Clara, de vê-la me chamar de mãe.
Não acho que ela tenha vindo para me ensinar. Como eu bem li esses dias, depositar sobre os ombros de uma criança o pesado fardo de “mestre” é um pouco cruel e egoísta.
Ela não veio pra me ensinar. Ela veio para ser ela mesma e percorrer seu próprio caminho.
E, ainda assim, é com ela que aprendo todos os dias.