Hoje (escrito na finaleira de 30 de janeiro) aquela bonecona que tá dormindo desmaiada ali, agarrada na bonequinha de pano, fez 6 meses. Mas não foi só ela quem fez 6 meses. Nós todos nós aqui em casa fizemos 6 meses.
E eu fiz 6 meses. 6 meses de amor, encanto, surpresa, alegria, felicidade, realização e satisfação. Faz 6 meses que todos os meus dias são dedicados a ela, ao mundo dela, ao bem estar dela. Faz 6 meses que eu não durmo direito, tudo bem, mas passaria todos esses dias novamente, se isso fosse condição para sentir todo esse amor que estou experimentando.
E faz 6 meses que eu amamento minha filha. Puta conquista, puta vitória, sucesso total!
No caminho percorrido do quinto pro sexto mês, ela acumulou mais novidades que programação nova de canal televisivo quando quer segurar o espectador. Ela rola pra lá e pra cá; senta bem firminha, olhando tudo com esses olhos incríveis pelos quais eu me derreto toda; dá gargalhada quando a mamãe morde a barriga dela; grita bem alto quando quer alguma coisa (eparrei!); toma um monte de água; grita pro garçom quando ele chega com a água dela; está falando um monte de sílabas novas e, quando quer que a gente a tire de algum lugar, fica falando NENE, NENE, NENE. Achamos que era acaso, mas isso tem se repetido com frequência que não nos permite achar que é coincidência. Ela já sabe de onde vem o bom e velho mamazão, então coloca a cabeça no meu peito quando quer mamar. Fala o tempo todo, numa língua misteriosa. Fala sozinha, fala com a gente, fala com os brinquedos. Fala. Muito. Nunca ficou doente, nem um simples resfriado, nem um narizinho escorrendo, nada. Santo leite do senhor, nosso zeloso guardador! E desde anteontem está ensaiando tchauzinhos. Tem quase 8 quilos de uma saúde sólida. Amém!
Sobre o leite e a amamentação: vamos seguir firmes e fortes! Pretendo amamentá-la por muito tempo mais, embora vá aos poucos inserindo os novos alimentos.
E já me toquei que estamos vivendo uma transição, que eu pretendo percorrer com muito cuidado.
Olho pra ela e penso que, ainda, somos extensão uma da outra. Ela não está mais dentro da minha barriga, mas ainda é feita exatamente do mesmo material que eu. Tudo porque o único alimento dela é o meu leite, o leite que produzo abundamentemente, com a graça de todos os deuses, de forma que, se todo o material dela é feito a partir disso, ela ainda é um pouco eu. Agora, com a inserção de novos alimentos, Clarinha vai se tornando, pouco a pouco, uma pequena pessoa feita de material construído por ela mesma, a partir do que a Terra fornece. Isso é muito simbólico e totalmente especial. E a mãe tem que estar com uma boa cabeça, pra passar por essa transição: ir deixando, pouco a pouco, de ser fundamental para a vida dela no quesito nutrição. Ainda bem que no quesito amor a mãe continua imprescindível pra sempre, ufa!
Hoje, enquanto eu dava o último mamazinho antes dela dormir, olhei praquela bebê redonda, bem redonda, bem linda, mamando com a mãozinha no meu peito. Nem sei quantas vezes vi essa cena durante esses 6 meses, mas é como se eu nunca tivesse vivido isso, porque toda vez é especial, todo momento é incrível. E é quando, depois de muito perguntar durante a minha vida inteira, eu sinto que essa coisa misteriosa que responde pelo nome de Deus realmente existe. Ser mãe é meio isso, sentir que existe uma coisa muito maior mesmo, que te permite passar por todos esses momentos tão comuns e, ao mesmo tempo, tão únicos, mesmo que você tenha passado uma vida inteira sem se ligar a esse tipo de coisa.
Eu, toda aventureira, toda maluca, agitada, baladeira, incansável, cheia de planos e objetivos, estudiosa, intensa, trabalhadora, destemida, desbravando o mundo às vezes com as unhas, estou cada dia mais surpresa comigo mesma. E, confesso, mais satisfeita comigo mesma. E mais realizada. Eu nunca nem cogitei que ser mãe era uma parte de mim que estava lá escondida e que veio toda à tona de maneira surpreendentemente forte quando da chegada dessa minha incrível filha. Agora o desafio tem sido esse: ajudar as outras partes que me compõem a emergir em meio a esse tsunami chamado maternidade, de forma que todas as minhas facetas possam encontrar seus lugares e conviver harmoniosamente umas com as outras. Porque a Clara precisa disso. Uma mulher inteira, uma mãe completa, que saiba ser 100% mãe, sem deixar de ser 100% mulher, 100% profissional, 100% cheia de planos de vida. Grande desafio, esse…
Eu nunca pensei que o caminho mais certeiro para o autoconhecimento e para buscar o aperfeiçoamento moral diário chamasse “filhos”. Agora eu já sei. E pretendo seguir firme nesse trajeto.
Filha, minha querida, minha menina com rostinho tão misturadinho mamãe-papai, minha criança risonha e tranquila: você veio como um bálsamo, um lenitivo (minha mãe me ensinou essa palavra ontem) na minha vida e como uma motivação maior do que qualquer outra para que eu procure ser cada dia melhor. Eu, que sempre duvidei um pouco da minha capacidade de cuidar de alguém, me descobri outra pessoa com a sua chegada. Eu nunca imaginei que pudesse merecer uma criança como você. Não sei se cabe um agradecimento, mas obrigada por ter nos escolhido… Você é incrível!
(Esse foi um fim de semana especial, de agradecimento à vida! Nem sempre a gente sabe quando nos é concedida uma segunda chance. Mas tem hora que isso fica tão escancarado que não dá pra negar.)