Querida amiga fashionista, esse não é um editorial de moda, ok?

Muitas pessoas continuam a me questionar sobre como eu pude ter coragem de abrir mão de uma bolsa de pós-doutorado para voltar ao doutorado, sem bolsa inicialmente e, quando conseguisse uma, com um valor bem menor. Isso falando apenas na questão financeira, sem mencionar os mais 4 anos de dedicação aos estudos e à pesquisa.
Sinceramente: não recomendo. Recomendar isso seria bem leviano. Porque pra conseguir segurar as pontas quando as coisas começam a ficar difícieis há que se ter uma convicção forte, ou seu plano pode desmoronar. É preciso muito chá de camomila, erva-cidreira, erva-doce, maracujá e, quiçá, omeprazol. E às vezes não adianta… Eu tinha (e continuo tendo) duas fortes convicções: Clara e uma certa insatisfação com minha área anterior de pesquisa. E ainda assim, quando a coisa ficou crítica cheguei a pensar em desistir. Em tempo: adoro a neurociência, a neurofarmacologia, e não sei se conseguiria abandoná-la totalmente, tanto é que em meu novo projeto há uma pontinha de transtornos psiquiátricos associados. Mas é muito frustrante você passar anos pesquisando e não ver um resultado concreto ao fim, não ver pessoas realmente se beneficiando de sua pesquisa, a despeito dos muito mil reais públicos investidos, isso sem falar na questão do uso de animais de experimentação que, embora se diga que é tudo muito controlado, tudo muito ético, quem está dentro da coisa sabe que, muitas vezes, é preciso fazer vista grossa com quem não pensa de maneira tão ética assim.
Bem,a partir de agora sou, novamente, uma bolsista do governo: fui contemplada com uma bolsa da Coordenadoria de Aperfeiçoamento de Pessoal de Níver Superior, a CAPES. Já fui bolsista CAPES quando fiz meu mestrado na USP de Ribeirão Preto, e foi uma boa experiência. Na verdade, sou uma expert em bolsas: fui bolsista de iniciação científica da FAPESP, a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (a Toda Poderosa FAPESP, com suas bolsas megalomaníacas que fazem a alegria dos estudantes); fui bolsista de monitoria em Educação do CNPq; fui bolsista de mestrado da CAPES; bolsista do Programa de Aperfeiçoamento Docente não lembro nem de qual agência; bolsista de doutorado do CNPq e agora, novamente, bolsita da CAPES. Taí a importância de se deixar sempre tudo certo por onde se passa…
Quando eu descobri que estava grávida, em novembro de 2009, tinha acabado de terminar meu primeiro doutorado e minha bolsa estava acabando. Cheguei até a escrever aqui, em 11 de dezembro de 2009, uma brincadeirinha sobre as bolsas da minha vida.
Se alguém me dissesse, naquela época, que em 2011 eu estaria começando um novo doutorado, novamente com bolsa CAPES, eu simplesmente diria “amigo, vai procurar ajuda, você não está bem”. Por isso aprendi: a gente não faz a menor ideia de como será a meia-hora seguinte, quanto mais o que estaremos fazendo daqui a 2 anos.
Eu só sei que estou feliz (e muito) com minha nova bolsa. Foi um grande alívio receber essa notícia. Não só do ponto de vista financeiro mas porque, também, agora me sinto mais tranquila para realmente deslanchar o projeto. Porque quando a gente tá com a cabeça cheia de coisas e preocupações, é lógico que não rende como gostaria.
Então é agora que eu começo pra valer.
Vou arregaçar as mangas, reestruturar as coisas de maneira geral e me dedicar o máximo que puder à minha nova pesquisa. E, lógico, com minha linda bolsa à tiracolo.
Eu não sei de que marca fashion, chique, estilosa é a sua.
Mas aqui eu vou de CAPES. Feliz da vida.

PS: que São Weber e São Marx permitam que esse amor dure, pelo menos, 4 anos. Comporte-se, CAPES.

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