De umas semanas pra cá, tenho notado uma série de alterações em mim. Uma dor de ouvido aqui, uma dor de garganta lá, uma dermatite atópica que aparece acolá, coisinhas que vão aparecendo do nada e, também do nada, desaparecem. Semana passada, depois de fazer as unhas, notei que um dos dedos inflamou, coisa que nunca me acontece. Até que no meio da semana uma dor de dente monstruosa me pegou e me levou pra cadeira da dentista. O diagnóstico: um tratamento de canal mal feito que deu problema e estamos refazendo. Já foram algumas consultas e ainda tenho mais algumas pela frente, que só são prazerosas porque são com uma querida amiga, senão… tá louco, ninguém merece. E numa das conversas, ela me alertou: sua resistência por algum motivo caiu e algumas bactérias estão se aproveitando disso.
Andei pensando nisso, nesses sucessivos probleminhas que andam me aparecendo. E rapidamente matei a charada: estresse violento, daqueles que nos tiram dos eixos. Na verdade, não é um estresse violento. É uma sucessão e acúmulo de pequenos estresses que vão nos desestabilizando física e emocionalmente. Geralmente, sou bem resistente. O que significa que, se está me pegando dessa maneira, é porque a coisa tá pesada pro meu lado.
Quando somos expostos a situações estressantes, há uma cascata de reações que começam no cérebro, passam pelas glândulas adrenais e terminam no sistema imunológico. Nas glândulas adrenais há liberação de adrenalina e cortisol e é esse cortisol que suprime parte da expressão do sistema imunológico. É um troço bem complexo, mas explicando assim já é suficiente pra entender o que acontece. O sistema imunológico parcialmente suprimido é a tal da queda de resistência, quando qualquer coisinha pode virar um coisão, ou pelo menos uma coisa bem incômoda. Mas o estresse não precisa ser, obrigatoriamente, uma coisa ruim. Tudo depende do que fazemos com ele. Isso, entre outras coisas, é explorado num livro muito bacana que li há alguns anos e que recomendo. Chama-se O Fim do Estresse Como Nós o Conhecemos, e vale muito a pena ler.
O fato é que ando tendo muitos aborrecimentos.
Alguns deles por minha própria responsabilidade e por diferentes motivos.
Primeiro: tenho o péssimo hábito de dar bola pra quem nem sabe o que fazer com uma. Gente perdida que não sabe nem onde tá passando o trem, mas quer comprar o bilhetinho. E é lógico que depois vem o aborrecimento. O saco é que o aborrecimento me estraga o humor, não o apetite, o que poderia ser de alguma valia… mas nem isso.
Segundo: acabo me envolvendo em empreitadas que nem queria realmente, aí me sobrecarrego e me estresso com a quantidade de coisa que tenho pra fazer.
Terceiro: tenho dificuldade de dizer “não” algumas vezes e isso me sobrecarrega também.
Quarto: tenho trocado algumas prioridades minhas por prioridades que nem são minhas.
Quinto: tenho me feito de politicamente correta e de compreensiva, guardando coisas que deveriam ser ditas.
Então vou aproveitar que a semana está começando, que tenho um trabalho grande essa semana ao qual me dedicar, e que ao final da semana será carnaval, com a visita tão esperada da minha irmã, pra começar uma campanha contra o aborrecimento.
Vou recolocar em prática alguns esquemas que eu usava e que davam certo, organizar meu dia-a-dia, deixar de dar bola pra quem não vale a pena, cancelar umas empreitadas e dizer muitos NÃOs, pra reorganizar minhas prioridades e ir recuperando minha saúde e tranquilidade. E, principalmente, vou voltar a dizer algumas coisas que quero dizer quando elas precisarem ser ditas. Porque, né? Se tem uma coisa que cresce mais que fungo na unha é gente sem noção que se acha a última coca-cola do deserto e não tem cacife nem pruma aguinha sem gás. Esse negócio de engolir sapo dá câncer, chega disso que o estômago da gente não é brejo.
Já desabilitei as notificações por e-mail das mídias sociais, já fiz uma seleção de e-mails importantes pra responder e não vou mais atender a todas as ligações. Esse negócio de e-mail e celular muitas vezes nos torna escravinho dos outros, já reparou? Virou obrigação responder mensagem sem noção ou atender telefone em horário esdrúxulo. Se você tá de saco cheio, não quer atender ou responder, ainda ouve um “pra quê tem celular se não atende?”. Aí se você responde “porque não tava a fim”, passa de grossa, vai entender…
Acho que se todo mundo fizesse, uma vez por semestre, uma campanha dessas contra o aborrecimento, as guerras poderiam ser evitadas.
É como diz o Pedro Cardoso, naquele videozinho hilário do qual eu sempre me lembro: “Quer dormir? Vai dormir! É por isso que no mundo é assim, um dorme, um acorda, um dorme, um acorda, porque se todo mundo ficasse acordado, seria a guerra mundial!”.
O Millôr Fernandes diz uma coisa muito verdadeira: “Certas coisas só são amargas se a gente as engole”.
Se a gente não as experimenta, então se tornam nada.
Fugir de aborrecimentos é mais ou menos isso: não tomar a dose que não lhe cabe.

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