Então um dia você descobre que alguém, em 2012, ficou com muita raiva de você em função de algo que você postou sobre maternidade, sobre formas de cuidar dos filhos. Descobre que essa pessoa ficou remoendo, procurando uma forma de te ferir na mesma proporção em que se sentiu ferida. Mas então, no meio do processo, ela decidiu perguntar a si mesma o porquê de ter ficado tão nervosa com aquilo. E descobriu uma resposta que não esperava… Surpreendeu-se e, ao invés de te atacar, foi lá e mudou o que a estava irritando na própria vida. Mudou e sentiu-se melhor. E nunca te atacou, nem te feriu, ao contrário do que antes quis fazer. E então, num gesto de empatia e sinceridade, escreveu contando tudo isso a você. O que fazer agora sobre isso
Agradecer. Então muito obrigada a você que, muito gentilmente, decidiu escrever isso para que eu soubesse, por meio da pesquisa de leitores que fiz nas últimas semanas. 
Aproveito para agradecer também às quase duas mil pessoas que se disponibilizaram a responder o questionário que divulguei na última postagem de 2012, aquela que era para ser a penúltima, antes da retrospectiva do ano, que eu não fiz por ter me entregue de corpo e alma às férias.

Foram centenas de pessoas avaliando o blog, dizendo do que gostam aqui, qual foi a postagem mais interessante para si e sua vida e – o que me surpreendeu muito – aproveitando o espaço livre para deixar recados. Dezenas de recados e mensagens carinhosas, motivadoras, sinceras que fiz questão de ler uma a uma. 
Foi então que percebi que ali estava descrito, nas palavras de outras pessoas, de tanta gente que não conheço, o meu próprio 2012. Ali estava a essência de tudo o que me aconteceu no ano que passou.
Nesses dias de férias, relembrei tudo o que vivi. Em todas essas reflexões, sustentei um sorriso no rosto, uma sensação de gratidão, de felicidade. Acredito ter vivido um dos meus melhores anos, em termos de satisfação profissional, de experiências como mãe, de vida pessoal, de conquistas, de riqueza interpessoal. Tive a oportunidade de participar de ações que ajudaram outras pessoas, pude conhecer gente especial que valoriza a vida da maneira como eu também a encaro, desafiei a mim mesma inúmeras vezes, aproveitei cada segundo livre que tinha. Para o blog, esse blog que me surpreende a cada dia, seja pelos novos convites que venho recebendo de pessoas muito especiais, seja pelas pessoas que chegam até mim intermediadas por ele, foi um ano incomparável. Tanta gente chegou até aqui… Tanta gente participou das discussões… Tanta gente me ajudou a construir uma nova forma de pensar… Tanta gente mudou sua própria forma de pensar.
Recebi comentários extremamente carinhosos, falando sobre como os textos tratados aqui ajudaram a si próprios e às suas famílias e amigos a repensarem coisas que já haviam dado por compreendidas para si mesmos.

E é uma via de mão dupla. É aprendizado mútuo, constante, progressivo, consistente. A quantidade de coisas que venho aprendendo e a profundidade do conhecimento que venho acessando nessa troca humana talvez eu não pudesse ter de outra forma. Estamos em uma época em que as novidades tecnológicas diárias tendem a tornar tudo obsoleto, mas nada, absolutamente nada, substitui o poder de conhecimento e aprendizado de um instrumento: o humano, o coletivo.

Em 2012 recebi convites profissionais importantes. Aprendi, com o novo doutorado, muita coisa nova que mudou ainda mais minha forma de ver e viver o mundo. Vi minha filha crescer de maneira saudável, leve, gostosa, bonita,  divertida. Aprendi com ela, aprendi na interação mãe-pai-filha, aprendi sobre relação familiar.
Surpreendi-me com toda a potencialidade de seu crescimento, orgulhei-me por sua segurança emocional – sinal de trabalho bem feito, junto com seu pai. Errei uma porção de vezes. Aprendi errando, voltei atrás e reformulei. Desisti de decisões, construí novos caminhos. Foi um ano de plantio, de construção, de arar a terra, de trabalhar pesado, não debaixo do sol, mas sob as estrelas…
Foram incontáveis madrugadas sentada em minha mesa lendo, estudando, conversando com minhas companheiras de trabalho – muito melhores e mais divertidas que as do Seu Silvio -, pensando em novas propostas, tendo novas ideias, às vezes com dúvidas, às vezes tristonha por ver a dimensão dos problemas com os quais convivo profissionalmente e saber minhas pernas tão curtas…

Foram muitas madrugadas sentada na mesa, de luminária acesa, Universal Channel ligada no mudo, olhando para o mar e para as luzes do Continente que brilham do lado oposto, olhando para a ponte Hercílio Luz, essa senhora que me lembra todas as noites de que de nada adianta construir algo que não possa ser usado por todos, que não traga benefícios, ainda que seja bela. Foram incontáveis noites olhando ao redor da mesa de estudo e vendo o chinelinho da minha filha, a pizza ou lanchinho feitos com carinho por meu marido e deixados para mim, o copo de água gelada que ele me trouxe antes de ir me esperar dormindo ou ir para o escritório ao lado trabalhar em suas coisas. Foram muitas noites pensando que havia esquecido de pendurar a roupa no varal novamente ou me lamentando pela segunda chuva que as roupas que já estavam penduradas haviam tomado…
Foram, também, muitas noites de cansaço por esse esquema de ir dormir quando o céu já não está mais tão escuro.
Foram muitos dias de sol, também. Dias de passeios pelo bairro com minha família, de peixinhos no Seu Antônio, de comadrio com amigas-comadres-vizinhas, de risadas e conversas, de planos que se construíram e se desfizeram, de crianças brincando e crescendo juntas. De amigos reunidos na sacada aqui de casa ou no quintal da casa deles.
Foram dias de saudade da família que mora longe, mas de vitórias comemoradas em conjunto.  De saudade das minhas mulheres e de vontade de ver meu sobrinho crescendo.
Foram dias de trabalho reconhecido e valorizado mas, sobretudo, de plantio.
Foi, definitivamente, um ano de plantio. Plantei variadas sementes, algumas mudas já crescidas, em solo desconhecido porém fértil, que tratei de preparar com a
finco.
Então, nesses dias que tirei de férias, de aproveitar o dia (e não a noite), de virada de ano, de renovaççao de esperanças, de reelaborações de planos, decidi apenas uma coisa para meu 2013: vou colher.
Decidi desengavetar projetos importantes para mim e que haviam sido deixados de lado por falta de tempo. Decidi fazer coisas que sempre protelo mas que permaneciam constantemente na cabeça. Decidi que 2013 será o ano da colheita. 

Há nove dias faço coisas que gostaria de ter feito nos meses anteriores mas acabei não fazendo. Estou trabalhando em um grande projeto meu, individual, com o qual sonho há dois anos, e do qual acabei abrindo mão em prol do trabalho coletivo. Agora ele é prioritário. Comecei uma horta, com direito a terra mexida, limpa e uma composteirinha na parte superior do terreno, para que o chorume possa escorrer e fertilizá-la. Comprei e já comecei a ler um livro que por falta de tempo deixei pra depois e o depois nunca chegava. Chegou. Fiz a tatuagem que sempre quis fazer, no exato dia em que o autor do desenho original – Henfil – completava 25 anos de morte. Consegui resolver problemas pessoais complexos – com sucesso.
Enfim, decidi parar de adiar algumas coisas e colocar, em meus anseios particulares, a mesma garra e determinação que coloco em meus projetos profissionais e nas ações de ativismo com as quais me envolvo.
E foi por isso, então, que me identifiquei tanto com os comentários que muitas pessoas deixaram no questionário da pesquisa sobre o blog, porque demonstram mudança a partir do que foi lido, do que foi feito. Mostram pessoas em transformação, inspiradas por um coletivo, por um paradigma em construção.

“(…) depois que conheci esse blog minha forma de enxergar muita coisa mudou muito, para melhor… sinto que se expandiu minha capacidade de compreensão sobre determinados aspectos da maternidade e minha capacidade de questionamento aos métodos de criação de bebês tão expostos e divulgados pela sociedade”.

Eu também, minha companheira. Também expandi muito minha compreensão sobre o mundo por meio dessa troca.

“Tenho sentido, cada vez mais, crescer em mim não apenas um bebê, de sexo definido mas ainda desconhecido, mas o desejo de lutar por um mundo melhor. Não pegar em armas, mas em livros e papel”.

Vá. Vá firme. Se há uma arma poderosa é essa: o conhecimento. Pegue nos livros, mire e atire pra matar. Seja lá o problema que você almeja ajudar a resolver, mire com determinação.

“(…) tenho deixado de lado todas as coisas que não me acrescentam nada como ser humano, porque acho a vida curta demais para desperdiçar com bobeira (melhor brincar com meus filhos), mas seu blog traz algo inquietante e essa inquietação produtiva é o que quero carregar comigo”.

Tenho aprendido, inclusive com você que deixou esse depoimento, um pouco mais sobre selecionar experiências. “Fazer a louca” perante algumas questões ou discussões que não levam a nada também é um plano meu para esse ano. Iremos juntas.

“Parabéns a vocês por transformar dores em potencialidades, por lutar pelo bem comum, por dedicar tempo a melhorar a qualidade dos serviços de saúde, por dar voz ao sofrimento de centenas de mulheres. Vcs estão no caminho certo”.

Parabéns a nós, companheira neonatologista, não só por acreditarmos que é possível, mas por irmos lá e fazer.

“Você mostrou que sim, estamos todas na contra-mão deste mundo doente, mas quando temos companhia tudo fica mais fácil”.

Esse sentimento de ter companhia em questões tão delicadas é algo que me fortalece e me move. É também por isso que continuo com este blog. Muito obrigada pelas demais palavras do seu comentário.

“Não acompanho blogs, mas esse prende sempre. Nossos filhos têm praticamente a mesma idade, então ler suas experiências com sua filha é como ler (e ordenar) meus pensamentos e sentimentos com o Lucas. É um privilégio mesmo!”

Acredite: é na escrita deste blog que também ordeno os meus pensamentos.

“O blog pode tornar-se um espaço de luta, de apoio, de acolhimento, de esclarecimentos para quem precise correlacionar forças para efetivar lutas concretas no cotidiano de suas vidas”.

Sim, pode! É como se diz lá em Maputo e aqui no Brasil: a luta continua, companheira.

“Seu blog muito acrescenta, principalmente em relação a educação das crianças, passei de ‘isso é falta de tapa’ para ‘compreender, suprir as necessidades, ter muito amor e paciência’… e seu blog fez parte desta mudança brusca!!”

Parabéns por sua conquista pessoal, individual. Parabéns por se dispor a mudar e a rever seus paradigmas. E obrigada por compartilhar isso.

Foram dezenas de comentários carinhosos e inspiradores. Agradeço por cada um deles, assim como agradeço também a quem não deixou mensagem mas o respondeu. E desculpo-me por, obviamente, não poder copiar aqui todos eles. Mas há um em especial que escolhi para finalizar essa postagem, essa postagem que é de esperança para um novo ano, de crença em nosso poder de colher bons frutos, de motivação para um ano de ainda mais autoconhecimento, de ainda mais mudanças, de ainda mais plantio mas, sobretudo, de colheitas.
É esse que está abaixo.

“Faz 1 ano que acompanho seu blog. Nesse intervalo gestei uma criança e a pari. Sim, eu pari a minha filha. Sei que isso não é novidade no mundo biológico mas o que quero te contar é que não era para ter parido, eu agendei uma cesárea aos 5 meses de gravidez por medo de sentir dor. Mas a madrinha da minha filha me enviou um texto seu onde você fala que a dor nem sempre é sofrimento e aquilo me tirou o sossego. Então decidi estudar mais sobre parto, daqui fui parar em outros blogs, li livros e mandei meu obstetra cesarista, como se diz, à merda. Pari minha filha. E se isso não é ajudar a mudar o mundo então não sei o que é.”

Uma mulher transformada. Um bebê nascido com respeito. Um cesarista mandado à merda.
Missão cumprida em 2012.
Pode vir, 2013, tô pronta pra você. Como você já percebeu…
A todos que estiveram juntos aqui, um agradecimento emocionado e sincero. E sigamos em frente.

Se temos de esperar, que seja para colher a semente boa que lançamos hoje no solo da vida.
Se for para semear, então que seja para produzir milhões de sorrisos, 
de solidariedade e amizade.
Cora Coralina


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