Sou bióloga de formação, psicobióloga de mestrado e farmacologista de doutorado. Estudo os efeitos de substâncias psicoativas sobre o comportamento e a cognição humana. Tenho particular interesse em compostos bioativos presentes em plantas que possam ser utilizados como calmantes, tranquilizantes, ansiolíticos e antidepressivos. Estudo as bases neurobiológicas dos efeitos dos psicofármacos utilizados no tratamento da ansiedade e da depressão, como diazepam, midazolam, imipramina, buspirona, sertralina, fluoxetina, amitriptilina, entre tantas outras substâncias.
E, pasmem, sou paradoxalmente contra o uso de psicofármacos.
De verdade mesmo.
Não gosto de ansiolíticos.
Não gosto de antidepressivos.
Não gosto de sossega-leões.
E embora tenha tendências à hiperatividade, não gosto de metilfenidato (ritalina). Mas isso dá um outro texto…
Não sou contra quem os utiliza. Sou apenas contra seu uso indiscriminado, como tem sido observado com tanta frequência nos dias de hoje.
Acho que o uso tão frequente – e a prescrição tão frequente – desse tipo de fármaco tem feito as pessoas esquecerem um pouco da capacidade que todos temos de trabalhar pontos difíceis de nossa personalidade, de lutar contra a tristeza, de proporcionar condições de melhora e exercitar o autoconhecimento.
Claro que em casos graves e extremos, de intenso sofrimento à pessoa, sou absolutamente a favor.
E é por esse motivo que estudo isso.
O que sou contra é essa febre do uso indiscriminado de psicofármacos.
Essa semana uma amiga, inclusive, perguntou se eu não tinha ritalina pra dar pra ela, pra estudar melhor (ela vai ler isso, vai se identificar, e acho bom que leia e se identifique mesmo, que é pra tomar a bronca pra valer).
Sou a favor de coisas naturais para tratar crises de ansiedade, insônia, depressão e outros problemas.
Mas não estou falando de plantas – porque seria arrastar muito a brasa pra minha latinha de sardinha.
Estou falando de COISAS NATURAIS.
Beijo.
Abraço.
Mais beijo.
Mais abraço.
Amigos.
Amores.
Música.
Filmes.
Livros.
Mais abraço e beijo.
Sexo do bom.
Cinema.
Trilhas.
Cafézinho.
Casa arrumada.
Cama quentinha.
Abajur aceso.
Cachorrinha zanzando pela casa.
Telefonemas carinhosos.
Bilhetinhos.
Florzinhas.
Noites bem curtidas.
Bons textos.
Caramelo, Chocolate e Biscoito.
Trabalho que se goste.
Doces.
Comidinhas.
Declarações imprevisíveis.
Surpresas.
Raptos.
Cheiros.
Cores.
Texturas.
Chazinhos.
Maracujá
Cafuné.
Acordar no meio da noite e ver do teu lado alguém querido.
Irmãs.
Reencontros.
Matar saudades.
Elogios.
Banho quente.
Cachoeira.
Gargalhada.
Viagem de carro.
Beijos.
Abraços.
Gente querida.

E a lista vai embora. Todos psicoremédios (inventei esse nome). Ou seja, coisas que alteram o funcionamento normal do nosso cérebro e, consequentemente, nosso comportamento e cognição.
Coisas que podem ser utilizadas sem contra-indicação, sem dosagem certa, sem efeitos colaterais (exceto no caso do sexo, porque aí tem que ter um bocadinho de atenção, se é que você me entende…), sem estigmas, sem parcimônia. 3 ou 50 vezes ao dia. Antes os após as refeições. Sem interação medicamentosa. Pode-se dirigir e operar máquinas. Sem causar sonolência ou te deixar de boca seca.
Todos calmantes.
Todos tranquilizantes.
Todos ansiolíticos.
Um exemplo bom de tranquilizante e ansiolítico natural são os amigos e as coisas que eles fazem. Por exemplo, uma amiga querida me raptou hoje pra levar as crianças pra escola. A pequena estava ouvindo um cd que era a coisa mais linda. "Metamorfose das borboletas", de um cara ótimo chamado Hélio Zizkind. Música pra criança com mensagem pra gente grande. Um ótimo calmante, tranquilizante e ansiolítico também.

E sobre calmantes e coisas que dão paz, só um último comentário:

"Não se acha a paz evitando a vida" (Virginia Wolf)

 

 

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