Você se preocupa com o que seu filho come?
Se sim, por que se preocupa com isso?
Se não, por que acha que não precisa refletir a respeito?
Quais os motivos que levam pais e mães a selecionar determinados tipos de alimentos para seus filhos?
Ontem, 25 de fevereiro, um portal divulgou os resultados de uma pesquisa de opinião feita pela principal empresa de pesquisa em grande escala no mundo, baseada em entrevistas com grande número de pessoas.
A pesquisa, conduzida em 24 países (entre eles Argentina, Austrália, Brasil, Canadá, China, França, Alemanha, Japão, Rússia e EUA), teve como objetivo saber quais os principais motivos que levam pais e mães a se preocuparem com a qualidade da alimentação de seus filhos.
Confesso que os resultados me surpreenderam…
O levantamento mostrou que a justificativa mais citada pelos pais para sua preocupação com a boa alimentação de seus filhos foi: ter um coração saudável, tendo sido mencionado por 23% dos entrevistados.
Em segundo lugar, empatados com 18% cada, ficaram: redução do risco de desenvolvimento de doenças ao longo da vida, melhor desenvolvimento cerebral e melhor imunidade.
Especificamente com relação ao Brasil, embora os entrevistados também tenham seguido a tendência mundial de considerar que ter um coração saudável seria o maior benefício da boa alimentação (citado por 29% das pessoas), os brasileiros também mostraram se preocupar muito mais com evitar ou reduzir o risco de obesidade (17%) do que a média mundial, que foi de apenas 8%.
Por outro lado, enquanto em outros lugares do mundo a maior preocupação parece ser reduzir o risco de doenças no futuro e melhorar o desenvolvimento cerebral (18% cada um), o brasileiro mostrou não partilhar da mesma opinião, uma vez que apenas 8 e 9%, respectivamente, dos entrevistados citaram tais fatores.
O resultado me espantou porque eu nunca pensei que as pessoas considerassem um motivo único para se preocupar com o que as crianças comem, talvez porque eu mesma nunca tenha pensado assim.
Minha filha tem, hoje, quase 1 ano e 7 meses. A amamentação foi sua alimentação exclusiva praticamente até os 9 meses. A partir dos 6, tentei incluir as papinhas e suquinhos em sua alimentação, mas ela não aceitava, não achou muito atrativa a consistência. Tendo entendido sua preferência individual, deixei de oferecer papinhas como única opção à amamentação e passei a oferecer o que nós mesmos comíamos da forma como comíamos: arroz, feijão, carne, vegetais, ovos, entre outros, que são a alimentação da família. E ela adorou! E desde então tem se alimentado muito bem.
O açúcar esteve completamente ausente de sua alimentação até completar 1 ano de idade quando, em sua festa de aniversário, agarrou um cupcake e enfiou a cobertura toda na boca. Ela estava no colo do pai, que percebeu que ela olhava para os bolinhos com vontade de comer e se esticava em direção a eles. Ele a deixou alcançar e levá-lo à boca. E ela gostou – claro… Como, até então, ela nunca tinha comido algo assim, ele me chamou para mostrar, naquelas de “mamãe, venha ver o que está acontecendo aqui…”. Quando olhei, fiquei chocada. E rolou aquela de “Caraca, e agora? Dou chilique? Acho lindo? Arranco da mão?”.
Bem, eu penso que proibições mais empurram as pessoas em direção ao supostamente proibido do que o contrário. Arrancar da mão dela seria uma coisa estúpida de se fazer. Então me aproximei e fiquei, com aquela cara de pasmada, observando como ela se comportava. Comeu o bolinho todo, foi alvo de muitas fotos – que ficaram lindas, confesso – e ficou satisfeita. Não rolou uma crise internacional, nem ela quis comer outro ao fim. Simplesmente comeu e pronto, sem estresse. Isso não significa que eu introduzi esse tipo de alimento na rotina alimentar dela, pelo contrário. Mas não é uma proibição.
Ela vai a festinhas, a eventos, a locais onde as pessoas comem de tudo e não há radicalismo. Sou radical apenas para coisas artificiais, refrigerantes, salgadinhos fritos do tipo coxinha, salgadinho de pacote e toda aquela tralharada que vem com mais aditivo que o próprio ingrediente principal. Fora isso, quer comer, come. Com moderação, mas pode. Mas, porque não é habitual em sua rotina, ela também não vai atrás.
Eu me preocupo sim com o que ela come. E, se tivesse sido uma das entrevistadas, responderia: porque acho que uma má alimentação influencia o sono, o humor, o sentimento de satisfação, o comportamento geral e a saúde global. Não me preocupo com a alimentação dela porque pode fazer mal ao coração. Isso também, mas não consigo reduzir a um motivo único. É uma preocupação que abarca múltiplas dimensões: física, emocional, mental.
Tenho aprendido, com minha filha e com os filhos dos outros, que todo extremo é ruim: radicalizar na alimentação, proibindo muitas coisas, os torna ansiosos, frustrados, compulsivos e, paradoxalmente, com ainda mais vontade daquilo que não podem. Vi muita criança comer escondido aquilo que o pai ou a mãe não deixava, ou pedir “Por favor, não conta pra minha mãe?”. Por outro lado, liberar geral causa obesidade, afeto deslocado para o alimento, indisposição, uma série de alterações fisiológicas e, também paradoxalmente, inatividade.
Lembro-me sempre do dia em que minha filha agarrou uma batata-frita da mão de um amigo, enfiou na boca e adorou. Lembro do rostinho dela olhando pra mim com aquela cara de “mãe, pelo amor de Deus, onde estava isso todo o tempo?!”. Deixei-a comer. Mas isso não significa que eu vá fazer batata-frita no almoço ou que vá fazer disso uma rotina. Eu apenas vou respeitar o gosto dela, sem desrespeitar seu próprio corpo.
Uma coisa é importante: além do que eles comem, tão importante quanto é COMO eles comem. Como o pai, a mãe ou o cuidador os alimentam. Alimentação deve ser feita com atenção, com cuidado, com amor. É um momento de cuidado e, como tal, precisa ser feito afetuosamente. Xingamentos, ameaças, retirada abrupta da comida, forçar, não combinam com o momento… Isso não si
gnifica que vamos deixá-los fazer da comida confete, jogando carnavalescamente por todo o chão, nem coisas do tipo. Mas alimentar com amor faz toda diferença e ajuda a criar uma boa relação com os alimentos.
Boa alimentação infantil faz bem ao coração, sim. Tanto como bomba propulsora do sangue quanto como símbolo do amor e do afeto.
Da próxima vez que for alimentar seu filho, lembre-se: é, também, de amor que ele está se alimentando. E sem essa de Sazon.