Tenho uma série de assuntos pra tratar aqui no blog: a palestra sobre TDAH no Forum sobre Medicalização da Infância e Adolescência, a compilação dos textos da postagem coletiva contra a violência infantil, o prêmio TopBlog 2012, o desmame da minha filha e, claro, a repercussão do videodocumentário “Violência Obstétrica – A voz das brasileiras”.
Por uma questão de justiça e coerência, escolhi falar hoje sobre o último, a repercussão do vídeo. Afinal de contas, não é coerente mobilizar uma multidão e sair de fininho como se pouco fosse. Ainda mais considerando os grandes resultados que estamos colhendo.

Mas para não perder o timing da coisa – e por uma questão de gratidão – quero agradecer a todos e todas que visitam esse blog, dedicaram 1 ou 2 minutos e votaram nele no Prêmio Top Blog 2012, porque – para minha imensa alegria e surpresa – ele foi escolhido como UM DOS TRÊS melhores blogs brasileiros de variedades! Muito obrigada a todos que votaram!
Foi muito surpreendente saber que, dentre os 100 selecionados para a segunda fase, o Cientista Que Virou Mãe foi considerado por quem lê – o juri popular – como um dos melhores. Surpreendente e emocionante! Um blog que fala sobre coisas não muito convencionais, que gosta de dar uns tapas na hegemonia, que trata de assuntos espinhosos e que mescla tudo isso com a experiência de maternidade que vivo… Foi muito surpreendente mesmo. Dia 26 de janeiro pretendo estar em SP para a cerimônia de premiação, para saber a colocação do blog entre os três e a colocação geral. Muito obrigada!

A repercussão do documentário “Violência Obstétrica – A voz das brasileiras”

No último domingo, divulgamos amplamente na web, com a ajuda insubstituível de centenas de pessoas, o documentário “Violência Obstétrica – A voz das brasileiras”. Foram posts simultâneos em blogs, sites e em centenas de perfis do Facebook. Era de se esperar, portanto, que o vídeo alcançasse um grande número de pessoas. Mas foi além do que imaginávamos.
Na tarde de domingo, com 12 horas de divulgação, contabilizamos cerca de 600 visualizações na página do vídeo no Youtube. Na manhã do dia seguinte, ultrapassou as 9.000 visualizações. Na terça-feira, com mais de 12 mil, tornou-se o terceiro vídeo mais popular na categoria “Sem fins lucrativos/Ativismo” do Youtube – o que nos deixou pasmas…

No momento em que escrevo, ultrapassamos as 23.000 visualizações.
São números que não esperávamos e estamos bastante satisfeitas com esse resultado inicial.
Além dos mais de 70 blogs que participaram do esforço inicial de divulgação (cuja lista encontra-se ao final deste post), outros sites conhecidos por sua popularidade também entraram nessa.
O Yahoo!, em sua seção Yahoo! Mulher, também divulgou o vídeo, graças à postagem da blogueira Carol Patrocínio, que publicou um texto intitulado “Violência contra a mulher: chega!”, onde também falou sobre a questão do estupro.
A blogueira feminista e professora da Universidade Federal do Ceará Lola Aronovich publicou um guest post em seu blog, o Escreva, Lola, Escreva, no próprio dia 25, estimulando um grande e produtivo debate por lá.
O site da Rede Humaniza SUS e o Blog da Saúde, por Conceição Lemes, também entraram na ação, publicando lá também o link para o vídeo e promovendo novos debates.

Como esperado, o esforço de divulgação levou centenas de pessoas à reflexão sobre a assistência ao parto, às formas de nascer, ao impacto da violência obstétrica sobre a saúde da mulher e do recém nascido e muitas pessoas passaram a escrever sobre o assunto.

Dezenas de depoimentos em tons de desabafo surgiram, ações foram retomadas no sentido de denunciar as práticas obstétricas abusivas e muitas pessoas envolvidas no assunto escreveram suas reflexões a respeito.

Uma dessas reflexões gerou inclusive um incidente bastante desagradável. A enfermeira obstétrica Mayra Calvette, que conheço pessoalmente e de quem gosto muito, autora do site Parto Pelo Mundo e da iniciativa de mesmo nome, publicou uma belíssima reflexão no blog da top Gisele Bündchen, do qual é colaboradora. No texto intitulado “Nascer sem violência”, Mayra falou com delicadeza e pertinência sobre a situação obstétrica brasileira e sobre como nós, brasileiras, estamos enfrentando o problema de maneira não violenta, e postou o link para o documentário. Como alguns já sabem, Gisele tem sido bastante criticada por suas escolhas de parto – como se o fato dela ser a maior top model no mundo desse direito aos outros de escolher por ela sobre aspectos tão pessoais como o nascimento de um filho. Gisele é uma defensora da humanização do parto e nascimento e é bastante criticada por isso – afinal, as pessoas se incomodam quando alguém que possui posição de destaque se posiciona firmemente em uma causa que é contrária aos seus próprios paradigmas. E em um erro grotesco de interpretação, o site Fox News interpretou o texto publicado como refletindo a opinião individual da modelo, ainda que tenha sido escrito por Mayra, e interpretando de maneira bastante errônea a expressão “violência obstétrica” como sendo sinônimo de “violência hospitalar”.

Não precisamos explicar (eu espero…) aos brasileiros e latinoamericanos a imensa diferença que existe entre as duas expressões, porque nossa realidade nos mostra cotidianamente qual é essa diferença. Mas talvez para os norte-americanos, imersos em um modelo de parto bastante tecnocrático, baseado na excessiva intervenção das tecnologias no processo natural de parir (vide programas como Sala de Parto ou Um Bebê a Cada Minuto, do Discovery Channel, onde bebês nascem em uma espécie de esteira industrial de produção e mães são tratadas como fornecedoras da matéria-prima), essa reflexão ainda cause bastante estranhamento. Ainda assim, a interpretação errônea e o julgamento precipitado produziu uma matéria tendenciosa, como era de se esperar, e causou a retirada da matéria escrita por Mayra e até então publicada no blog. Um fato bastante lamentável, inclusive porque o assunto é sério e merece ser discutido internacionalmente a partir de um prisma mais abrangente.

Enquanto isso, nós, pesquisadoras e ativistas envolvidas na produção deste vídeo, fomos solicitadas para algumas entrevistas. Bianca Zorzam concedeu uma entrevista para a TV Brasil, cujo link ainda não está disponível, Heloísa Salgado foi entrevistada por uma emissora local de TV da região de Ribeirão Preto (também estamos aguardando o link) e eu fui entrevistada por telefone pela jornalista Marilu Cabañas, da Rede Brasil Atual, jornalista que tem se mostrado apoiadora da luta contra a violência no parto e ajudado na promoção da discussão sobre o assunto.
A entrevista editada está disponível abaixo para ouvir.

Como explicamos anteriormente, o vídeo foi produzido de maneira modesta, embora tenhamos contado com a ajuda imprescindível e profissional do videomaker Armando Rapchan, que dedicou algumas madrugadas a nos ajudar nisso. Mas acreditamos que o assunto merece ainda mais evidência, ainda mais discussão, para que de fato possa sair da invisibilidade e se tornar conhecido da sociedade brasileira. Somente assim conseguiremos que as esferas públicas do poder tomem providências efetivas contra essa cruel forma de violência contra a mulher. Assim, acreditamos que há material e relevância no tema para uma produção maior, para um verdadeiro documentário, e estamos iniciando algumas conversas com documentaristas brasileiros a fim de trabalharmos juntos em uma produção maior. É incipiente, estamos dando os primeiros passos, mas acreditamos que o tema tem todo potencial – e relevância – para inspirar um documentário, um longa. Esperamos que as vozes das mulheres que sofrem violência no parto diariamente possam ecoar para além dos limites que alcançamos até agora.

Do ponto de vista acadêmico, a produção deste videodocumentário nos impulsionou também, junto com nossos orientadores (professores Simone Diniz e Charles Tesser), a sistematizar as ações que as redes de mulheres vêm promovendo no sentido de desnaturalizar a violência obstétrica, e já estamos escrevendo alguns artigos que pretendemos que sejam publicados o quanto antes em revistas internacionalmente conceituadas.

Esse é um trabalho que não parará tão cedo.
Há muito ainda a ser feito e queremos que o vídeo voe ainda mais longe.
Algumas mulheres já se voluntariaram a produzir legendas em outras línguas – agradecemos muito por isso, é esse sentimento de coletividade que nos move. E no momento estamos, então, transcrevendo todo o conteúdo em português para, após isso, produzirmos as legendas em inglês, espanhol e italiano, além do próprio português, o que tornará mais compreensível alguns trechos cujo áudio encontra-se prejudicado em função das gravações caseiras via web cam, máquina fotográfica ou celular.

Mais uma vez, estamos mostrando a força das mulheres conectadas e articuladas em rede, mobilizadas de forma a promover uma forma de controle social de um problema que nos atinge diretamente.
Mais uma vez, estamos mostrando que as ferramentas da web não são mais “potenciais”, são concretas e extremamente úteis e funcionais na produção de ações em saúde coletiva e na obtenção de dados que possam orientar outras ações.

Abaixo, há uma lista linkada para todos os blogs que participaram do esforço de divulgação. Não foi possível, ainda, sistematizar as divulgações via outras mídias sociais, como Facebook, Twitter, Orkut e outras, mas pretendemos fazer isso também. Desculpo-me de antemão caso algum blog não esteja nesta lista e coloco-me à disposição para atualizá-la assim que informada sobre.
E mantenho nosso compromisso de informar coletivamente sobre novos resultados alcançados.
Mas até o momento podemos dizer: estamos conseguindo. As pessoas estão falando sobre o assunto, estão problematizando a própria experiência e estão desnaturalizando os processos violentos que, infelizmente, encaramos como rotineiros em determinado ponto do caminho.
Já vimos que não podem ser rotina.
Já vimos que representam a violação dos direitos humanos, dos direitos reprodutivos.
Já vimos que é comum, que não é mito, que é real e frequente.
Agora queremos mudança.

Meu agradecimento sincero por tudo o que todos têm feito no sentido de denunciar a violência obstétrica. É um bem coletivo o que estamos, todos, fazendo.

Blogs/sites participantes do esforço de divulgação do vídeo

Cientista Que Virou Mãe
Parto no Brasil
Mamíferas
Parto do Princípio
Roda Bebedubem
Bem Que Se Quis
Conversas ao meio dia
Flores no Ar
Tatiane Pires
Doula em Londrina
Jardim Divino
Projeto Acolher
Maternidade Orgânica
Espaço Abertto
Parto e Gravidez
Espaço Ishtar
Holos Ecologia Integral
Beta Positivo
Nascer Humano
A Força de Cada Dia
Info Brasília
Rede Humaniza SUS
Roda Gestante
AcolheDoula
Caetaneando
Diário da Thaís
Na Cabeça Ativa
Poder do Ventre
Tramado por Mulheres
Escreva Lola Escreva
A Louca do Bebê
Livres Associações
Ela Não Usa Chupeta
Do Fundo do Ventre
Maternamente
Filho da Mãe e do Pai Também
Fisioterapeuta Angela Rios
Parto Alegre
Blog da Lu Rocha
Entrelinhas
Escolhi Ser Mãe
Ishtar Brasília
Mãe Com Eme
O Papel Roxo
Bebê a Bordo
Polipatos
Na Alegria e na Tristeza
Mamãe Ananda
Projeto Florescer Mulher
Biqueta de Ouro
Todos os Meus Lados Juntos
Coisas Loucas Deste Mundo
Nascer Sorrindo
Porque a vida tem dessas coisas…
Coisas de Pamela
Dani Parideira
Minha Pequena Isis
Aventuras Maternais
Minha Casa Tem Quintal
Hello Stranger
Bia Fotografia
Diário de um Gergelim
Gerando
Doula Carla Coelho 
Acalanto
Ishtar Belém
G-estar Bem
Buena Leche
Mulheres Empoderadas
Barriga Boa
Três Princesinhas
Blog da Saúde
Meu Parasita Querido (atualizado)

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