Má que rapel, caverna, trilha, acampamento, andar de jipe, se jogar em poço de cachoeira, subir em torre de tv, descer corredeira de rio com umas folhas protegendo a canela, mergulhar com tubarão, cair de moto na chuva e quebrar uma costela ou andar num rolimã 3 vezes menor que seu tamanho numa ladeira esburacada. Que nada, bicho!
Adrenalina pra valer mesmo, coisa hardcore, tréco muito punk, parada muito louca, é só tendo filho.
É muita doideira!
Ser mãe é coisa pá macho!
Ainda tô nos 2 minutos do primeiro tempo e a parada já se mostrou sinistra em temos de adrenalina, caraca.
No último post contei sobre minha tristeza ao realmente perceber a imensa vulnerabilidade que sente uma mulher que vira mãe, sentimento surgido depois que minha filha caiu da cama de cabeça e eu quase morri do coração. Tudo bem, todos sobreviveram. E agora estou praticamente sem dormir desde o dia anterior, porque ela acordou chorando loucamente na última madruga, não dormiu nem um pouquinho, chorava muito forte como quem sente dor e corremos com ela pra emergência pra ver se estava tudo bem. Eu já imaginando que tinha um coágulo cerebral ou um hematoma no córtex pré-frontal, bem catastrófica – eu ODEIO quando fico assim. Estava tudo bem. Nem sei porquê eu ainda procuro médico nessas horas. Eles nunca sabem nada, eles nunca viram nada, eles nunca ouviram nada, eles parecem que nem estão ali, parecem até aqueles três macacos. A única coisa que sabem fazer é prescrever coisa. Eles te dizem: “não tem nada não, mãezinha, mas tóma aqui essa receitinha, passa ali na farmacinha e compra aqui essa porcariazinha pra dar pra sua filhinha mesmo que ela não precise de nadinha”. Eu ficou puta! Primeiro, mãezinha é o cacete, meu nome é Zé Pequeno. Vê se tenho cara e idade pra ser sua mãe, minha filha? (leia mais sobre o uso da expressão “mãezinha” ao final deste post). Segundo, se ela não tem nada, tá prescrevendo por que? Eu fico puta de novo! Médico é foda, cara. Médico é foda. E pra você que já taí pensando, de boca mole: “ai vai, não é todo médico que é assim”, é lógico que eu sei que não é todo médico que é assim. Conheço uma meia dúzia de ótimos médicos. Mas pode apostar que são a ínfima minoria. Porque o ensino de graduação em medicina tem priorizado mais a especialização tecnológica do que a formação humana holística. Tenho lido diversos artigos sobre a construção do ensino da medicina ao longo dos tempos e é assim mesmo e pronto e acabou. Não gosto de médicos, não confio em médicos, tenho péssimas experiências com médicos. E se você é um médico bom, ou tem um médico bom, valorize-se (ou valorize-o)! Deve ser aquele tal do um em mil. Nem tenha o trabalho de se ofender, no caso de ser médico. Eu sou bióloga e já ouvi milhares de vezes na vida que bióloga não raspa os pêlos do suvaco, nem usa desodorante, fuma maconha como quem come feijão, vive de chinelinho de couro por aí abraçando árvore que nem o Serguei.
Aí hoje cedo, Clara acordou com 39 de febre e totalmente sem motivação. Quietinha lá no canto. Logo ela, sempre tão sorridente e faladeira do baleiês fluente. Puxa, fiquei pra morrer… Dei uma ligadinha pra médica homeopata que tem acompanhado ela (que até o momento tem sido eficiente, pelo menos tem me atendido de emergência quando eu ligo, o que já é um grande passo…), que me tranquilizou dizendo que era pra dar um antitérmico e ficar tranquila, que era provavelmente uma gripe e que não estava relacionado à queda. Mas acontece que ela é médica e eu já fico meio cabreira. Por que que eu ligo então? Ué, só pra não dizer depois que não liguei… Liguei pra minha amiga-enfermeira-parteira-querida de todas as horas, pau pra toda obra, que me disse as mesmas coisas, e mais umas outras bem tranquilizadoras, e aí eu fiquei bem melhor.
Mas passei um dia super ruim, porque, clichê: ver filho doente é a pior coisa que existe no mundo. Quando as pessoas me diziam isso, eu pensava que deveria ser mesmo. Que deveria ser proibidio criança ficar doente. Mas hoje sei que é bem pior. A gente fica que nem cachorro que se perdeu na mudança da família pra outro estado.
Dei um banho bem fresquinho nela, um antitérmico, e fiquei bem grudadinha o dia inteiro, dando beijinho, fazendo carinho, dormindo juntinho. Aos pouquinhos ela foi melhorando, voltou a conversar em sua língua natal, a sorrir pra gente e bater palminhas. Pra dormir deu um trabalhão danado, como nunca havia dado antes, mas hoje ela pode tudo.
Essa foi a primeira vez que a Clarinha ficou doente. A imunização natural da amamentação não deu conta de protegê-la contra a gripe mega que eu peguei no feriado. Ai que judiação da minha petit Michelin. Meu coração ficou em frangalhos, minha adrenalina a mil, eu toda alterada.
Dois puta sustos em uma semana.
O que?!
Fazer rapel em cachoeira?
Acampar no meio do mato correndo o risco do fogareiro explodir?
Nunca mais.
Agora eu só topo parada pesada, adrenalina correndo solta: tenho uma filha. É uma vida de emoção agora, gente boa.
E o melhor é que é altamente viciante.
Mexer com filho deixa a gente completamente alterado. É mais forte que tóchico, mano, tá ligado?

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Sobre o uso da expressão “mãezinha”.
Tem coisa mais irritante que “ô mãezinha”? Logo que a Clara nasceu, me lembro até hoje da minha reação quando uma auxiliar de enfermagem de aventalzinho meia manga e cara de quem sabe tudo e vai te dar a honra de compartilhar os conhecimentos dela contigo, me chamou de “mãezinha”. Achei que era um cacoete da pessoa. Mas quando, na sequência, me veio outra e repetiu, eu já pensei: “pooorra, não me diga que existe isso?”. Mãezinha?! Vê se eu te chamo de “tiazinha”, tia? Pára né? Mais respeito com a nova mãe, façavor.

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