Eu estava prestes a começar um texto explicando, do ponto de vista científico, porquê os bebês lutam
tanto contra o sono – sim, minha filha começou a lutar contra o sono há duas semanas, na semana passada quase enlouqueci e, nessa semana, resolvi o problema bem facilmente com uma pequena-grande mudança. Depois conto…

Então estava eu prestes a começar o texto quando, não sei nem como, vi um depoimento afirmando que a dor do parto era uma dádiva de Deus e que deveríamos agradecer por isso, nós mulheres, porque assim estávamos nos redimindo do pecado original.
Só rindo mesmo…

Sabe, tem coisa que não se responde. Ou se responde de maneira bem bizarra só pra ver a cara da pessoa – especialmente quando se amamentou oito vezes durante a madrugada, está cansada e com sono. Outro dia, por exemplo, uma mulher me parou na rua pra perguntar (com cara de indignada-conhecedora-de-toda-a-condição-humana) como eu tinha 'coragem' de levar a minha filha no sling daquele jeito. Depois de um istmo de tempo chocada com a pessoa ousada, respondi, com cara de demente: "Porque filho tem mais é que sofrer, a senhora não acha?!". Ela tomou um susto, pediu desculpa e saiu andando. Foi entendido o recado: deixe as mães em paz.
 

Falemos, pois, da dor do parto e da culpabilização da coitada da Eva, cuja responsabilidade vai até – e somente – a gostar de cobra e maçã.

A culpa é mesmo da evolução.

Eu vivo brincando e dizendo por aí que esse lance de andar sobre duas pernas não deu muito certo na evolução humana não…
Baseio-me em duas constatações: na epidemia de dores nas costas, super democrática, e no estreitamento da pélvis humana.
Claro que o andar bípede trouxe uma série de benefícios os quais, todos juntos, fizeram com que essa característica fosse pra frente, fosse altamente adaptativa, permanecendo no repertório fisiológico e comportamental humano. Mas trouxe uma outra característica biológica (entre tantas): o estreitamento da pélvis.

Andar de quatro favorecia o alargamento da região pélvica. O andar bípede trouxe um estreitamento do quadril e, consequentemente, um estreitamento da pélvis.
Que que tem isso?
Venhamos e convenhamos que a passagem do bebê se torna muito mais difícil em nossa "nova" posição bípede (nova = milhares de anos). Depois vêm gente dizer que a dor do parir vem do pecado orginal, cuja culpa foi da Eva. Ninguém pensa que temos que abrir muito mais a bacia agora para o bebê nascer… Saudade dos tempos de macaco, ô! Se fui macaco, nem me lembro…

Saiba você que isso interferiu diretamente no tempo de gestação. Acredita-se que, antes, os ancestrais da espécie humana, nem-tão-bípedes assim, gestavam mais que os 9 meses que conhecemos, a exemplo do gorila, que pode chegar a até 300 dias de gestação. Se fôssemos tomar pela complexidade e tamanho do cérebro humano, deveríamos mesmo gestar por muito mais tempo. Mas pense que, quanto mais tempo lá dentro, mais cresce a cabeça. E quanto mais cresce a cabeça, mais difícil será passar pelo canal de parto.

Pois é, minhas amigas, o andar bípede estreitou mesmo a bacia e influenciou o tempo de gestação. Menos tempo gestando significa um filhote de menor tamanho craniano. Um menor tamanho craniano implica em um menor desenvolvimento cerebral. Um menor desenvolvimento cerebral implica em ter menos aptidões que te permita se virar sozinho. E é por isso, entonces, que os filhotes de onça nascem e já saem andando beleza, felizes, enquanto o filhote de humano nasce e depende um tempão dos cuidadores pra se locomover, se alimentar, enfim, viver.

Existe uma estimativa que diz que para equiparar o grau de maturidade cerebral de um bebê humano ao de um filhote de outras espécies primatas no momento do nascimento, deveríamos ficar mais ou menos uns 12 meses grávidas.

IMAGINA O TAMANHO DA CABEÇA, SANTO ANJO DO SENHOR, MEU ZELOSO GUARDADOR!

Então, temos filhos mais cedo quando comparado a outras espécies, mas temos bebês mais dependentes de nós. Bebês mais dependentes por muito mais tempo.

E daí? Com você eu não sei, mas eu gosto que seja assim… Fico pensando em como será quando ela não for mais tão dependente. Penso nisso e me dá uma dorzinha no coração – acho que toda mãe passa por isso.
Deixa assim que tá bom.
Santa pélvis.
Pobre Eva.

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