Não.
Não fiquei louca.
Pelo menos não oficialmente…
Também ainda não estou ouvindo vozes.
Mas quase…
Porque é exatamente essa a sensação.
Neste final de tese, o trabalho tem tomado cada segundo dos meus pensamentos.
Bom isso.
E ruim isso…
Mesmo entre amigos e em um bom papo, ele está lá, como uma presença invisível ao meu lado.
Como um fantasma – nada – camarada.
Normal isso, eu acho. Pelo menos todos que conheço que já passaram por um final de doutorado dizem a mesma coisa…
Por mais que você tire umas horas para o descanso, para si mesma, pra relaxar, ele está ali do seu lado ou, pior, dentro da sua cabeça. Da sua cabeça que já é meio confusa…
Em alguns momentos parece mesmo uma voz, uma irritante e inconveniente voz, dizendo pra você que você não escreveu tudo o que precisava, que a conclusão que tirou no segundo parágrafo da página 123 pode ser meio precipitada, que o parágrafo não está em 2,5, que a Figura X1 tal não está tão definida, que você não tinha nada que estar sorrindo com os amigos, que tinha que estar discutindo o porquê da hipertermia induzida por estresse ser um modelo confiável de ansiedade, porque drogas benzodiazepínicas impedem a sua ocorrência, porque o extrato tal agiu de tal forma e qual o composto que existe ali dentro age via serotonina – a tal serotonina – e não sobre a noradrenalina e que o flumazenil, ah! o flumazenil, ele não bloqueou o efeito da coisa… um inferno.
Uma loucura mesmo.
Tem que estar REALMENTE muito preparada pra uma coisa dessas…
No início foi muito difícil aprender a conviver com essa presença, mas agora… Ah, agora… tá mais difícil ainda. Taí uma coisa difícil de se acostumar.
Bom, o fato é que minha vida tem girado em torno disso, de forma que outros assuntos "resolveram se resolver" sozinhos. Incrível isso… uma hora vou parar pra pensar mais nesse assunto e tentar entender o que aconteceu.
Mas muitos nós se desfizeram sem minha participação ativa, acho que numa tentativa da vida de diminuir as fontes de tensão e de me ajudar no foco. Não funcionou muito não mas, tudo bem.
Bom, ainda não estou conseguindo escrever muito sobre outros assuntos porque girei a chave pro lado profissional e estou nessa sintonia.
Mas essa será a última semana… pelo menos, é o que espero.
Aliás, nessa semana provavelmente estarei em modo "sobressalto-acústico-potencializado-pelo-medo" que, pra quem não conhece, é um modelo experimental de ansiedade.
Portanto, muito cuidado com o andor que o santo é de barro.
O menor barulhinho, o menor imprevisto, pode produzir respostas muito maiores…
Semana de respostas, de definições, de inícios, de finalizações…
Vai, coraçãozinho véio de guerra, aguenta mais um pouco…
Depois de 2 anos, o coraçãozinho voltou a ter arritmia.
Acompanhada de uma leve falta de ar…
Se eu não tivesse escrito uma dissertação de mestrado sobre isso, há alguns anos atrás, até poderia me dar ao luxo de fingir que não sei que é uma crise de ansiedade.
Mas nem isso…
E essa insônia? Básica. Típica de quem está esperando uma resposta. Um resultado.
E é exatamente esse o caso: uma resposta que vai decidir meu futuro imediato.
Achei que passaria incólume mas… não. Tá aqui mandando brasa.
Bom, mas como tudo nessa minha louca vida tem funcionado na base da sincronicidade, hoje chegou um e-mail bastante gentil de uma jornalista solicitanto uma entrevista sobre um tema muito interessante: Esquizofrenia.
Nesses anos de pesquisas em neurociência, embora tenha me dedicado mais a estudar as bases neurobiológicas dos distúrbios de ansiedade e de depressão, os mecanismos da esquizofrenia sempre me despertaram muito interesse, de forma que, informalmente e por uma decisão pessoal, tenho dedicado meu tempo a estudá-la também. Simplesmente por ser o transtorno psiquiátrico mais incapacitante e que mais sofrimento gera, tanto para o próprio paciente quanto para seus familiares. Já produzi algum material sobre isso e, sem planejamento prévio, um desses materiais caiu na rede após um curso que ministrei em julho e, desde então, algumas pessoas vem entrando em contato comigo pedindo outras informações.
E confesso que pretendo, um dia, se tudo der certo, estudar mais a fundo as bases neurobiológicas da esquizofrenia. Mas ainda não é o meu foco de atenção.
Enfim…
Brincadeiras à parte, uma das perguntas que me foram feitas despertou em mim uma certa surpresa, principalmente em função de conversas recentes, com diferentes pessoas, em torno do tema "como tem louco no mundo". Ela me perguntou se essa poderia ser considerada uma doença da "modernidade"… Puxa vida…
De imediato, e sem entrar em maiores detalhes, já digo: não. Não pode.
Mas já imagino o que a levou a fazer essa pergunta…
E até que não me espanto…
Infelizmente.
Mas isso dá um outro texto.
Ou uma boa conversa com amigos.
De médico e louco todo mundo sempre teve um pouco.
Ultimamente, mais de louco e menos de médico…
Enquanto for "um pouco", tá tudo sob controle.