Eu gosto de um livro chamado “Alucinações Musicais”, do Oliver Sacks, um médico neurologista e psiquiatra do Columbia University Medical Center.
Gosto de todos os livros dele, que levam nominhos bem peculiares, como “O homem que confundiu sua mulher com um chapéu”, “Um antropólogo em Marte”, “A ilha dos daltônicos” e o famoso, porque deu origem ao filme, “Tempo de despertar”.
O último dele foi o primeiro que mencionei, “Alucinações Musicais”.
Muito bom, mas sou suspeita, porque fala de neurociência…
Mas tem uma parte que ele explica o motivo de ficarmos com uma música na cabeça por muito tempo. Sempre lembro disso…
“… tive outro sonho musical, que também continuou durante a vigília. Mas neste, em contraste com o sonho de Mozart, a música era muito perturbadora e desagradável e desejei ardentemente que parasse. Tomei banho, bebi um café, saí para andar, sacudi a cabeça, toquei uma mazurca no piano – e nada. A abominável música alucinatória prosseguiu, irredutível. Por fim, telefonei a um amigo, Orlando Fox, e disse que estava ouvindo músicas e que não conseguia detê-las. (…) Orlando pediu que cantarolasse algumas delas. Cantei, e fez-se uma longa pausa.
‘Você abandonou algum de seus jovens pacientes?’, ele indagou. ‘Ou destruiu alguma de suas crias literárias?’. ‘As duas coisas’, respondi. ‘Ontem pedi demissão da unidade infantil do hospital onde trabalho e queimei um livro de ensaios que tinha cabado de escrever (…). Como foi que vc adivinhou?’. ‘Sua mente está tocando os Kindertotenlieder de Mahler’, ele disse, ‘músicas que ele compôs para o luto pela morte de crianças’. Espantei-me, pois não gosto nada da música de Mahler e normalmente tenho muita dificuldade para lembrar em detalhes, que dirá para cantar (…). Mas eis que minha mente, com precisão infalível, produzira um símbolo bem apropriado para os eventos da véspera.”
Ou seja, muitas vezes, músicas que não saem da sua cabeça querem dizer alguma coisa sobre você e suas vivências, no melhor estilo “Freud explica”. Estou falando de músicas, não de jingles imbecis que foram arquitetados pra grudar no seu cérebro.
Estou com uma na cabeça bem insistente. Já me pegaram cantando 4 vezes hoje.
Fiquei me perguntando o porquê de estar com ela na cabeça. E não aguento pergunta sem resposta. Lembrei-me que eu associo essa música a uma cena de filme, mas não lembrava do filme. Então respirei fundo, me concentrei e tentei sentir o que a música me trazia, que tipo de sentimento ela evocava e em quais outras situações ela havia aparecido (porque é uma música recorrente na minha vida). Aí veio a cena inteira do filme. E eu entendi porque estou cantando há dois dias…
Abaixo, a música e o trecho do filme.
A gravação original da música é dos Elderly Brothers e o filme é “Os Garotos da Minha Vida” (Riding Cars With Boys), estrelado por Drew Barrymore e que conta a história de uma garota dos anos 60 e da vida dela com o namorado, o filho e o pai – daí os “garotos” no título do filme… Essa cena, com o pai dela, me mata… Mas pra entender o que ela está sentindo nesse momento, só assistindo o filme. Ou não.