Ainda falta muito pra Clara me fazer essa pergunta – eu acho, pelo menos. Mas taí uma coisa que nunca me preocupou, como explicar isso pras crianças…
Se não puder ser explicado como natural, então é porque a pessoa não vê como natural, ué. Aí é melhor mesmo a criança aprender com outra pessoa, pra não crescer cheia de viés.
Lá em casa foi tranquilo, mas aconteciam uns episódios engraçados.
Quando eu era criança, me lembro de um livro que rolava na casa da minha vó, sempre na clandestinidade, quando os primos estavam reunidos. Era um tal de um primo trazer enrolado no cobertor, depois o outro colocava dentro do travesseiro, uma loucura, parecia tráfico. A gente abria o livro, via um pintinho lá (não o da galinha, o do menino mesmo) e rachava o bico, dizendo: “Olha o pintinho dele! Olha o pintinho dele!“, como se ter pinto fosse uma super novidade evolutiva. Era muito divertido. E bastava os adultos descobrirem que estávamos vendo o livro que era um pegapacapá pra escondê-lo de novo. Aí virava uma caça ao tesouro. Era o livro do pinto.
Lembro também de um livro sobre sexualidade que tinha na estante da minha casa (eu nunca entendi o que aquele livro fazia lá, porque nunca foi o tipo de leitura reinante em casa… Tinha livro sobre tudo quanto era coisa relacionada a espiritualidade. E no meio deles um sobre como funciona o aparelho reprodutor?! Eu achava isso muito louco). Lembro que eu abria o livro na parte do pênis e ficava pensando – eu era obcecada por essa pergunta: como um cara fazia pra não prender o peru no ziper? Porque aquele troço pendurado lá pedia pra ser preso no ziper! Eu não tinha coragem de perguntar pro meu pai, porque ele ficava muito desconcertado com umas perguntas que eu fazia, então tinha dó. Mas um dia perguntei para um amigo na escola. Acho que eu tinha uns míseros 8 anos. O menino super ingênuo respondeu: “Não sei, eu só uso bermuda com velcro, que é pra dar tempo de abrir pra fazer xixi e não fazer na calça!” – hahahahahahahahaha Adoro essa parte.
Bom, quando meus pais sentaram comigo pra conversar sobre sexo, eu os frustrei muito. Chegaram cheios de boa vontade, “Então minha filha, a gente quer te explicar uma coisa e tal”, e eu bem nojenta: “Gente, relaxa, eu já sei faz tempo como é, aprendi nos livros”. Imagino que a explicação dada sobre como eu já sabia – lendo livros – os tenha tranquilizado bastante…
Enfim. A questão que eu defendo é: nada melhor do que a verdade.
Sementinha do papai encontrando sementinha da mamãe, fada do bebê, cegonha, não gente, parou.
Senta e explica. Da forma mais natural possível. Porque é mistificando as coisas que se cria artificialismos. Não vem falar que na barriga da mamãe tem um ziper que abre e o bebê sai por lá só pra não falar que sai pela vagina, pepeca, perereca, ou seja lá o nome amigável que você queira usar. Aí a cria cresce achando cesárea um tudo na vida da pessoa. Já basta a porcaria da tv… Outro dia, a filha de uma amiga me disse que nunca quer ter um parto normal, porque todas as atrizes da televisão sofrem muito quando estão tendo bebê pela “pepeca” (ela usou esse apelidinho) nas novelas. Ela queria uma cesárea, que nem suava.
Essas ilustrações aí embaixo já rolaram faz tempo na internet. Mas rolou agora de novo. É um livro alemão ensinando como os bebês são feitos e como eles nascem. Ponto pros autores! Super bacana! Leitura das minhas, em minha fase minipessoa. O único porém, que merecia uma edição revisada: coitada dessa parideira aí, imóvel em decúbito dorsal. Esqueceram de contar pra ela que parir de pé, agachada ou na água é muito mais fácil. Se bem que, se esse filho dela nasceu assim, sorrindo e dando tchau, mesmo com ela deitada de barriga pra cima, imagina como nasceria em uma posição mais fisiológica; já chegaria sambando.
Essas imagens rolaram essa semana de novo com um pedido direto da mulherada pro Frank: ô Frank, redesenha isso aí. Incluí aí uma piscininha, um banquinho de cócoras, uma mãe abraçada com o pai no trabalho de parto.
Ajuda a parideira do desenho alemão, Frank!!

 Tcharan, cheguei! Ói eu, gente!

Pronto.
Tá feito o pedido coletivo pro Frank desenhar uma versão mais bacaninha da coisa.
Eu sugiro também retirar aquele instrumento estranho da mão do médico na sexta imagem, à esquerda, que eu fiquei com um pouco de medo de onde pode ser que ele tenha enfiado aquilo.

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