E então ontem foi o segundo dia da Clarinha na escola.
E foi tudo diferente, porque ao invés de fazermos a adaptação no primeiro período, fizemos no segundo.
Ao invés de ir a mãe, foi o pai.
Frank ainda me perguntou se, já que minha aula havia sido cancelada de última hora, eu não gostaria de ir novamente. Meu primeiro impulso foi aceitar, mas depois repensei e achei melhor ele mesmo ir.
Por dois motivos. Primeiro: pra ver como ela se comportaria não estando com a mãe nessa segunda experiência. Segundo: para que ele também pudesse vivenciar essa experiência, observar, tecer comentários, sentir tudo aquilo.
Então os deixei lá por volta das 16:30. Entrei com eles na escola e fiz de propósito: disse um enfático “Tchau, filha, mamãe tá indo mas daqui a pouco eu volto” pra ver a reação. A reação: “Tchau mamãe, beijo!”.
Lição no. 1 do dia: para ela, a presença do pai ou da mãe é tão segura quanto.
E fui.
E – juro – fui tranquila. Mas fiquei pelas imediações – porque meu cordão umbilical é meio curto, sabe como é que é…
Voltei 1 hora e meia depois para buscá-los.
Encontrei Frank, as professoras, uma mãe (que me reconheceu das listas e do blog) com suas filhas e Clara correndo por tudo, toda suja de areia – linda!
Ela me viu e veio correndo, me deu um beijo e disse: “Legal colinha, mãe”. Ô frase bendita, acalmadora de coração de mãe.
Entrei e conversei com a professora, perguntando duas coisas. Primeiro: como seria o dia seguinte?
Sinceridade? Meu medo mesmo era o dia seguinte (hoje), porque, de acordo com o esquema de adaptação de lá, eu entraria com ela, esperaria senti-la segura (e me sentir segura também) e iria embora. Ficaria ali por perto, com o celular ligado (NO ÚLTIMO VOLUME, NO VIBRA E NO ALERTA MÁXIMO) e, caso ela não aceitasse muito bem, elas me ligariam logo. Caso aceitasse, me ligariam somente mais tarde para buscá-la. Então perguntei para a professora e ela me explicou exatamente isso. Fiz mais umas perguntas cretinas, como “Mas vocês me ligam mesmo? Mas vocês me ligam na hora? Mas posso levá-la embora se ela não topar? Mas posso mimimimi whiskas sachê blablabla whiskas sachê?” – parecia uma tonta. Como faz parte do script, ela entendeu e me acolheu: fique tranquila, vai ser como vocês se sentirem mais seguras.
E então aproveitei para fazer a segunda pergunta, que andava me incomodando.
Nesse semestre, terei aulas às sextas-feiras pela manhã. Como ela vai à tarde para a escolinha, eu ficaria o dia inteiro sem vê-la. Bom, aí já é demais pra mim, nesse momento de adaptação.
Então perguntei se tudo bem, nesse início, ela ficar em casa às sextas-feiras, para evitar mudança muito brusca. Nunca ficamos muitas horas uma sem a outra, ir para uma escolinha já é uma mudança grande…
Ela entendeu, apoiou, disse que tudo bem, que seria melhor mesmo evitar a mudança brusca e eu me tranquilizei.
Lição no. 2 do dia: uma equipe amorosa e humana é tudo o que uma mãe precisa para ajudá-la a se sentir segura com a escolha.
E então ela aproveitou e disse: “Aconteceu uma coisa linda, você precisa saber”.
Contou que, em determinado momento, Clara começou a chorar por algum motivo (Frank disse depois que foi uma disputa de brinquedo ou coisa afim com outra criança). Quando ela está muito sentida, tampa o rostinho com as duas mãos e chora copiosamente. E começou a chorar assim, bem sentida. Nesse momento, chegou uma amiguinha e a abraçou. E chegou mais um e a abraçou. E veio mais um e a abraçou também e, quando viram, ela estava ganhando um abraço coletivo. E então, quando acabou o abraço coletivo, ela ainda foi de um por um, abraçando, e chorando um pouquinho, e abraçando outro amigo, e chorando mais um bocadinho, e abraçando mais um.
Algo como “Me dê um abraço, venha me apertar, tô chegando” (by Milton Nascimento).
Fiquei feliz… ela mesma estava em busca de integrar-se. E o grupo estava permitindo sua integração.
Então demos tchau para todos os amigos e professoras e fomos embora.
No carro, a pergunta: “E aí?”.
Frank meio tenso (hahahaha, entendo, passei por isso anteontem mesmo).
Disse que no geral foi tudo legal, que ela brincou bastante, curtiu muito, disputou bastante também (natural e esperado para a idade), foi muito protegida por seu amigo Caetano e quase tomou uma paulada na cabeça, de um garotinho que brincava com um pedaço de pau. E que, nesse momento, ele ficou tenso e repensou a decisão.
(estou rindo enquanto escrevo isso, porque a cara que ele fez foi mesmo tensa)
Mas logo ele mesmo se acalmou, e eu o ajudei a se acalmar, porque afinal coisas assim podem acontecer quando crianças estão juntas.
E fim do segundo dia na escolinha.
Amanhã é o dia.
Vou levá-la, ficar por ali um pouco e dizer: “Tchau filha, dá um beijo na mamãe, pode ir brincar que eu já volto pra te buscar, tá?“. E esperar pela reação.
Confesso: temo isso há 2 anos, 1 mês e 12 dias.
No momento em que escrevo isso, só me lembro de uma coisa. Quando, com 17 anos, no portão das kitinetes onde morei no primeiro ano de faculdade, há muitos anos atrás, minha mãe me deu um beijo, um abraço, choramos juntas, ela entrou no carro e disse: “Se cuida, filha. Qualquer coisa me liga”. E foi embora.
Eu tinha 17 anos, nunca tinha morado fora, era muito apegada à minha família e estaria sozinha numa cidade que não conhecia, distante 300 e poucos quilômetros de casa, pra começar uma história – que, hoje, já a tendo vivido, foi uma das melhores experiências que tive na vida. Desse mesmo lugar onde me despedi da minha mãe, trouxe comigo para a vida um dos padrinhos da minha filha e uma querida amiga que acaba de se tornar mãe, com quem tenho a alegria de ter retomado contato.
Amanhã vou me despedir dela com o mais sincero desejo de que a história se repita e ela traga para sua vida, fruto dessa experiência, tão bons momentos quanto eu pude ter.
Guardadas as devidas proporções, porque se ela desaparecer de casa por 3 dias, emendando uma balada na outra, eu morro.
Amigas: é hora da reza.
Vai. Rezem por mim.
Tô tensa.
PS: Ok, juro parar de contar no dia 03. Prometo não fazer um diário até a formatura.
PS2: Ou não.