A minha geração (nasci em 78) cresceu ouvindo que brasileiro era bunda. Um programa humorístico global dizia isso toda terça-feira em rede nacional: “Brasileiro? Ô povinho bunda”.
Houve uma época em que realmente acreditei nisso, que o brasileiro era realmente muito bunda, muito acomodado. Mas hoje… Hoje não acho mais.
Não só não acho como me recuso a aceitar esse rótulo.
Mas não porque eu seja rebelde e “ah!, não aceito, não gosto”.
Mas porque a minha bunda não vive atolada em um sofá assistindo aquilo que querem que seja assistido a fim de nos tornarmos dóceis – e cada vez mais bunda.

Esse está sendo um ano muito especial, de trabalho intenso e grandes conquistas.
São conquistas pequenas perto do que ainda temos a conquistar? São. Mas isso não diminui a grandiosidade relativa delas.
Neste ano, vimos mulheres e suas famílias nas ruas reivindicando o respeito às nossas escolhas reprodutivas. Demos maior visibilidade à violência que sofremos no nascimento dos nossos filhos.
Demos muito nossa cara a bater. Nos expusemos muito. Muito mesmo.
Nós? Nós.
Mulheres, ativistas, mães, profissionais da saúde, pessoas que se importam com os direitos das pessoas, não só os seus próprios, mas os de todos. Arregaçamos as mangas, amarramos forte os slings, triplicamos o turno, avançamos na madrugada, conectamos nossos computadores, mandamos ver nos comunicadores instantâneos, fizemos valer nossas redes de contato, mobilizamos a opinião pública. Saímos do comodismo criticista #mimimi improdutivo e fomos em frente, dando o passo do tamanho das nossas pernas e das perninhas pequenas de nossos filhos. Lenta. Mas fortemente.
E cada conquista precisa ser celebrada porque, afinal, sozinhas somos Davi, mas unidas olhamos Golias bem nos olhos e dizemos: estamos de olho em você.

Ontem fiz aqui o convite para um bate-papo coletivo virtual com diferentes mulheres a respeito do absurdo de existir um reality show com a presença de bebês: blogueiras, profissionais da saúde e pesquisadoras. Foi um encontro muito especial, que reuniu dezenas de pessoas on line (algo em torno de 200 pessoas) e que, à despeito das dificuldades técnicas, foi bastante produtivo. Pessoas sugeriram ações, canais de comunicação foram compartilhados e muito se falou sobre os prejuízos do confinamento aos bebês, sobre como a sociedade vem aceitando sucessivas formas de desrespeito às crianças. O tom da conversa foi um só: a indignação coletiva sobre esse desserviço exibido pela Rede Globo e financiado por uma marca que, até então, detinha credibilidade entre as mães, o Hipoglós.

Em virtude de todas as ações que os grupos maternos estão promovendo, contrárias não somente  ao programa mas inclusive às declarações equivocadas do educador Marcelo Bueno, que orientou em rede nacional o desmame precoce de crianças de 1 ano, desrespeitando as orientações do Ministério da Saúde e da Organização Mundial de Saúde, hoje tivemos uma grande vitória.

Fiquei muito emocionada quando soube.
Justamente pelo que falei no início, pelo fato de que cresci ouvindo do senso comum que o brasileiro era acomodado, que esse país não tinha jeito, que era um país lindo cheio de gente fútil.
Não. Nós não somos não!
Se você é, fale por si. Mas não me inclua, não NOS inclua nessa generalização.

Então te convido a ler o que está abaixo e que foi, sem dúvida alguma, uma conquista coletiva.
Uma conquista promovida pelos coletivos maternos. Bravas e persistentes mulheres. 

Para baixar o arquivo, clique aqui.
É a RECOMENDAÇÃO No. 30/2012 – MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL – PROCURADORIA DA REPÚBLICA NO ESTADO DE SÃO PAULO.
Recomendando o que?
Que a Rede Globo se retrate sobre os pronunciamentos errôneos proferidos por alguém que se intitula educador, Marcelo Bueno. Todo educador sabe: somos responsáveis pela informação que divulgamos. Não se fala sobre aquilo que não se sabe, com o risco de se estar propagando práticas prejudiciais à coletividade. Lição número 1 da educação.
Nosso querido educador – esse sim, grandioso! – Paulo Freire já dizia:

Me movo como educador porque, primeiro, 

me movo como gente.

Então que, como gente, possamos ser mais, muito mais responsáveis naquilo que andamos falando e fazendo por aí….

E um viva a essas queridas mulheres!
Um VIVA A NÓS!
Meu agradecimento emocionado e especial a: Renata Penna, Kalu Brum, Fernanda Andrade Café, Andréia Mortensen, Deborah Diniz, Fabíola Cassab, Mariana Sá, Priscila Cavalcanti, Luciana Benatti, Anna K., Bianca Lanu. E me desculpem, por favor, porque com certeza esqueci de mulheres fundamentais (deem um descontinho… é sexta-feira, início de noite, e o cansaço bateu).
E um agradecimento coletivo, especial, profundo, a: Luciana da Costa Pinto e Ana Carolina Previtalli Nascimento, as Procuradoras da República, as mulheres que assinaram a recomendação, juntamente com Jefferson Aparecido Dias.

Porque se tem uma coisa que a gente tem é peito. 

Leave a Reply