Quando estava grávida, ouvi falar do elimination communication (EC). Cheia de preconceito e
ignorância – no sentido de ignorar o fundamento, as práticas, os benefícios e, ainda assim, fazer um julgamento – não gostava. Nem conhecia e dizia que não gostava. Bem limitada mesmo. Achava muito legal os relatos de conhecidas que faziam, na verdade achava incrível, mas para mim era algo muito além da minha realidade. Era preguiça mesmo, a pessoa tem que se assumir. E preconceito também. Hoje sei que além de preguiça e preconceito foi uma falta de consciência ambiental… Ô se arrependimento matasse…
E porque preconceito é, definitivamente, coisa que atrasa mais a vida de quem o tem do que a dos outros (por uma questão de infinita justiça), não estudei o assunto, não o apliquei à higiene da minha filha ainda bebê e, claro… me arrependi até o último fio de cabelo.
Quando tomei vergonha na cara e fui ler para, só então, formar uma opinião consistente, vi o tanto de boas coisas que eu havia perdido com relação à interação com minha filha e como a expus desnecessariamente a fraldas químicas e tudo mais. Depois, estudei bastante sobre o assunto, conversei com muita gente, vi como tinha sido boba e havia perdido uma grande chance e que, ainda que eu trabalhasse fora na época, daria pra fazer sim, já que ela ficava em casa com o pai.
Agora, estamos começando um desfralde por aqui. Um desfralde que começou com a leitura de sinais que ela mesma nos deu de que, provavelmente, estaria pronta para fazer xixi e cocô em outros lugares que não sua fraldinha. Confesso: se havia um tema que me atemorizava mais que desmame era desfralde. Pavor mesmo. Nem queria tocar no assunto. E eu sei porque… Fui uma criança que fez muito xixi na calça, muito, mas muito mesmo. Na roupa, na cama, na escolinha, na minha festinha de aniversário. Andava fazendo xixi pela vida. E aí, por medo de passar vergonha, eu comecei a segurar. Segurava muito, ao máximo. Tentava segurar de todas as maneiras, porque tinha vergonha de fazer xixi na calça, mas não conseguia. Me encolhia, me encurvava, me contorcia, segurava o mais que podia, mas não conseguia segurar e fazia na roupa. Por conta de segurar sempre, de não querer fazer xixi, trouxe esse mau hábito para a vida. Já adolescente, esclarecida sobre os malefícios de fazer isso e por ter convivido com crises sucessivas de infecções urinárias que me levavam para o hospital, ainda assim segurava até o máximo, ainda assim prendia o xixi. Depois de adulta, já mais consciente, me obrigava a ir ao banheiro urinar pelo menos 3 vezes por dia, mas era quase uma obrigação. Para não ter erro, aumentava a ingestão de líquido, assim não tinha como não ir. E as infecções urinárias sempre foram recorrentes durante toda minha vida. A última que tive foi aos 7 meses de gravidez e me levou às pressas para a maternidade em trabalho de parto prematuro. Foi uma luta, em conjunto com o querido obstetra que me apoiou, para diminuir as contrações e manter o bebê lá e fiquei quase quatro dias internada em tratamento com antibióticos para reduzir a febre, debelar a infecção e impedir que minha filha viesse antes. Com trabalho dedicado do obstetra e uma grande dedicação minha, conseguimos. Lembro-me até hoje dele segurar na minha mão e dizer: “Você já está sendo tratada, agora vamos focar no emocional e conversar com a bebê para que ela fique mais”. Por isso eu gosto dele até hoje… O mais interessante é que depois de me tornar mãe, nunca mais tive.
Mas então estamos começando o desfralde aqui muito tranquilamente, sem encanações ou pressões de qualquer tipo. Estou muito feliz e satisfeita por estar vencendo meus próprios medos também. Vejo o sorriso dela aprendendo e me tranquilizo de que estamos, eu e o pai dela, indo muio bem. E, como nunca é tarde para aprender, e por ter lido muita coisa sobre EC, estamos aplicando algumas coisas da prática no desfralde e creio que é também isso que está tornando o processo tão tranquilo.
E dá até uma coisa na gente ver que é tudo tão real, tão verdadeiro, tão respeitoso. Que pena que não lutei antes contra meu preconceito… Perdemos todos com isso: nós, que deixamos de poder nos conectar ainda mais a ela; ela, que foi exposta a plásticos, géis e afins; e o meio ambiente, que recebeu um contêiner de resíduos danosos – vou ter que plantar uma ilha nova pelo que fiz…
E como hoje parece ser o dia internacional do mea culpa, e aproveitando que estamos falando de coisas tão básicas quanto xixi e cocô, aproveito para compartilhar aqui um barulho com o qual estou convivendo nos últimos dias: PÁF!
É a sonoplastia da cuspida que dei para cima quando, mesmo sem nada saber de crianças e sem sequer imaginar que teria filhos, me achava no direito de dar opinião sobre o tema. Ouvia as crianças filhas dos amigos, em época de desfralde, dando tchau para o xixi e para o cocô que ia embora pelo vaso e achava uó. Pensava: “Como foi que uma criatura ensinou um serzinho a dar tchau para o xixi e o cocô, gente?!”. Como se eu tivesse direito de ter opinião sobre o que eu nada sabia… Como se eu soubesse tudo daquele contexto, daquela família…
Aí a pessoa se torna mãe, a filha cresce um bocadinho e, na primeira ida conjunta com a mãe ao banheiro, assim que termina de fazer xixi a filha olha para o vaso e, sem qualquer orientação/indução/sugestão/whatever, simplesmente diz entusiasmada enquanto a descarga é acionada: “Tchau, xixi!!!!!“.
Páf! Páf! Mais uma vez: páf!
Obviamente, porque, hoje, tenho um mínimo de noção e respeito pelo desenvolvimento natural da criança, não censurei, deixei que se despedisse dos seus primeiros xixis fora da fralda. Porque acredito que uma repressão dessa sem qualquer fundamento por ela compreensível, aos 2 anos de idade deporia grandemente contra a minha capacidade mental. Vou dizer o que? “Filha, não se dá tchau a xixi?!”. Por que não? Deixa dar o tchau para o xixi, se partiu dela naturalmente é porque, de certa forma, tem algum significado para ela, que ainda não entrou na pira de querer encontrar o pelo no ovo, seu e alheio.
Bem, a primeira dica de hoje é, então, para quem vai começar a maternar ou quem já está cuidado de filho pequeno: conheça o elimination communication. Leia, estude, entenda, não deixe sua desinformação te boicotar como eu fiz. Muito menos seu preconceito. Não, você não será o único a perder com isso. Seus filhos e o lugar onde vivemos também perdem e muito.
Sugiro aqui alguns links sobre o assunto, elaborados por pessoas conhecidas.
E também uma matéria recente que passou em programa dominical televisivo e também em jornal local aqui de Florianópolis.
– Higiene com (ou sem) fradas: Elimination Communication
– Elimination Communication
– Saiba porque não usar fralda descartável é um hábito saudável
A segunda dica é: jogue fora seu preconceito. Se você não sabe o que é diaper free, elimination communication, slings, parto em casa, amamentação continuada, desescolarização, procure saber mais antes de formar sua opinião. Se souber e ainda assim não gostar, está no seu direito. Mas não seja preconceituoso com quem analisou e fez essas e outras escolhas para sua própria vida. Você não tem nada a ver com isso.
No próximo post, as respostas para as perguntas “Para você, o que são produto orgânicos?” e “E por que você consome, ou consumiria, um produto orgânico”, feitas no post do dia 06 de junho e que você pode ver aqui.