Movidas pelo descontentamento com seu próprio corpo, muitas pessoas recorrem a procedimentos cirúrgicos definitivos como as cirurgias plásticas. O aumento do desejo de realizar uma cirurgia plástica ainda na adolescência se deve tanto à pressão estética da cultura de massa atual – a qual tem o bullying como um de seus diletos filhos – quanto ao relativo aumento da facilidade de acesso a tais procedimentos cirúrgicos, com clínicas e profissionais disponibilizando planos de parcelamento e outras comodidades financeiras que tornam mais viável a intervenção.
 
Muitas jovens, por motivos estéticos ou visando evitar problemas posturais graves, têm recorrido à redução das mamas ainda na adolescência ou início da juventude, procedimento também chamado de mamoplastia redutora. De acordo com a Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, a mamoplastia redutora visa remover o excesso de gordura, de tecido glandular e de pele, visando atingir um tamanho proporcional e aliviar o desconforto associado a seios muito grandes. Na página da instituição há, inclusive, a seguinte orientação: “é um procedimento individualizado e você deve fazê-lo para si mesma, não para satisfazer os desejos de outra pessoa ou para tentar se adaptar a qualquer tipo de imagem ideal”.
 
É lá também, no item “Possíveis riscos da cirurgia”, que há o alerta: a incapacidade de amamentar após a mamoplastia redutora é uma possibilidade. Mas quantas garotas,  em pleno desabrochar da adolescência, estão preocupadas especificamente em amamentar os filhos que nem sabem ainda se terão? O interesse pela amamentação vai surgindo conforme surge a vontade de ser mãe, o que não é – e nem deve ser – uma regra.
 

Grande número de mulheres que fizeram mamoplastia redutora acaba não amamentando por má orientação profissional, não por incapacidade física.

O fato é que muitas mulheres que viveram mamoplastias redutoras na adolescência ou início da idade adulta se deparam, de fato, com a angústia de não saber se conseguirão amamentar. E grande parte delas, tanto em função da pouca disponibilidade de informação quanto da má orientação profissional, realmente desiste de tentar ou de persistir… E com isso, acaba perdendo a indescritível e insubstituível oportunidade de amamentar um filho, de saber o que é ter um bebê que se alimenta de você, de se saber nutriz. Entre as que chegam a iniciar a amamentação, um grande número acaba interrompendo, geralmente em função de receber pouco apoio e má orientação.
 
Em uma revisão sistemática publicada em 2010 no periódico Journal of Plastic, Reconstructive & Aesthetic Surgery, publicação oficial da Associação Britânica de Cirurgiões Plásticos, Reconstrutivos e Estéticos, os autores, movidos pela falta de consenso científico em definir a habilidade das mulheres que viveram mamoplastias redutoras em amamentar, exclusivamente, para além dos 6 meses recomendados pelas organizações internacionais de saúde, recorreram à literatura internacional para estudar a possibilidade de amamentar por esse tempo de duração. Para isso, investigaram tudo o que há publicado sobre o tema desde o ano de 1950 até 2008. Os resultados que obtiveram nessa vasta pesquisa foram muito animadores: não parece haver nenhuma diferença na capacidade de amamentar após mamoplastia redutora em comparação com mulheres que não viveram tal intervenção, entre a população geral norte-americana, durante o primeiro mês pós-parto. E, o mais importante: a pesquisa mostrou que as dificuldades relacionadas à amamentação nessas condições parecem ser mais explicadas por questões psicossociais relacionadas ao aconselhamento recebido dos profissionais de saúde do que por incapacidade física de amamentar.
 

Sim! Mulheres que viveram mamoplastia redutora conseguem amamentar!

Se toda mulher precisa ser amparada e acolhida em seu processo de amamentação, as que viveram mamoplastias redutoras precisam ainda mais. Principalmente porque – sim! – elas podem amamentar, em sua grande maioria. As técnicas cirúrgicas vêm avançando cada vez mais, a  ponto dos cirurgiões conseguirem preservar tecido glandular suficiente para a produção de leite. A crença na total incapacidade de amamentar da mulher que passa por mamoplastia redutora é mito, hoje já se sabe. Mas temos muito a avançar no apoio que damos a essas mulheres.
Esse é o objetivo desse texto: apoiar, informar e ajudar mulheres que passaram por mamoplastia redutora a amamentar. Aqui estão orientações e dicas de quem trabalha há  muito tempo orientando mulheres e as auxiliando no processo de amamentação, além de valiosos depoimentos de quem passou pela cirurgia e amamentou com sucesso.
 
Orientações e dicas de quem apoia mulheres: 
Ana Basaglia e Fabíola Cassab
 

Ana Basaglia é designer gráfico, membro da IBFAN, mãe de 3 crianças e umas das fundadoras da Matrice. Fabíola Cassab é advogada, doula, mãe da Paola e também uma das fundadoras da Matrice. Matrice – Apoio à Amamentação é grupo de apoio que acolhe, orienta e divulga informações a respeito da amamentação e tudo ligado a esse assunto (aporte de nutrientes, dependência física e emocional, peso social, familiar e no ambiente de trabalho). A Matrice promove encontros semanais gratuitos em São Paulo e mantém uma lista de discussão e uma página no Facebook para divulgação e troca de experiências.
 
Sobre amamentação após mamoplastia, elas têm orientações preciosas a dar:
 

Amamentação após a cirurgia de redução de mama certamente é possível. Com os avanços nas técnicas cirúrgicas para redução de mama, os cirurgiões são cada vez mais capazes de preservar os tecidos produtores de leite, para que as mulheres sejam capazes de produzir quantidades significativas de leite. A amamentação, então, é uma possibilidade muito concreta se a mulher passou por essa cirurgia, supondo que ela tenha,pelo menos, um peito com um mamilo e aréola.

Apesar de existir a chance de alguns dutos terem sido cortados durante a cirurgia, ao longo do tempo muitos desses dutos voltam a "crescer" (e isso pode acontecer em um ritmo acelerado sob a influência dos hormônios de uma gravidez) e, de modo geral, em cerca de cinco anos eles voltam a ter sua funcionalidade praticamente intacta. Ou seja: a grande maioria das mães que passou por essa cirurgia consegue produzir leite materno suficiente.

Antes do nascimento do bebê, não há nenhuma maneira de saber quanto leite a mulher que fez mamoplastia vai ser capaz de produzir. Após o parto, talvez a melhor coisa que ela possa fazer para maximizar sua amamentação é uma coisa relativamente simples: remover tanto leite quanto possível nas primeiras duas ou três semanas de vida do bebê. Isto porque a quantidade de leite que as mamas estão programados para "fazer" frequentemente é determinada nesse período. Quanto mais leite for retirado nesse tempo, maior a capacidade de produção de leite os seios vão ter. Obviamente, a melhor maneira de fazer isso é através da amamentação em LD (livre demanda), mas o uso de uma bomba de leite poderosa também pode ser útil nesse período.

Além da amamentação em LD, outras ações podem ser úteis: procurar os grupos de apoio, procurar compartilhar sua vivência (e seus meios e angústias) com outras mulheres que passaram por experiência semelhante, procurar informação e auxílio nos bancos de leite, acreditar, confiar, ter paciência (os bebês não crescem e se desenvolvem de maneira igual), pedir ajuda para alguma consultora de amamentação ou doula pós-parto experiente, se cercar de pessoas pró-amamentação, descansar bastante, se alimentar e principalmente se hidratar muito, lembrar (e se fartar, se quiser) dos lactogogos, aceitar as eventuais dificuldades, observar a troca de fraldas para definir se a quantidade de leite tem sido suficiente, não permitir intervalos muito grandes entre as mamadas, amamentar à noite, não introduzir bicos artificiais precocemente. Não existe uma receita pronta: cada mulher pode se servir do que melhor lhe cabe ou faz sentido!

Por fim, vale lembrar que, mesmo se essa mulher não tiver leite suficiente, ela pode ter uma experiência muito gratificante com a amamentação, e há muitas maneiras de aumentar sua produção de leite. A amamentação é mais do que apenas a produção de alimentos para o seu bebê".

 
Textos de apoio
 
Andreia Mortensen, amiga pessoal, professora, cientista, apoiadora de grupos de maternidade ativa e ativista no combate à violência contra a criança, compilou informações preciosas sobre relactação, caso você, que passou por mamoplastia, precise. Elas podem ser encontradas nesse texto. Mas lembre-se que a relactação não é uma regra entre quem fez a cirurgia. Muitas mulheres conseguiram amamentar sem relactar, como mostram os depoimentos abaixo.
 
É dela também a indicação desse site fundamental (se vc não tem familiaridade com o inglês, não tem problema, é só ativar o tradutor do Google ou de seu navegador) e do livro “Defining your own success – Breastfeeding after breast reduction surgery”, de Diane West, editado pela La Leche League International, infelizmente ainda sem tradução para o português.
 
Relatos de mulheres que fizeram a cirurgia e amamentaram
 
Tamy Bucchino
Enfermeira, doula, ativista do parto natural e da amamentação prolongada, blogueira.
Mãe do Raphael.
 
(…) Entristece-me saber que, por escolha ou por falta de empoderamento, a mulher deixa de regalar ao seu filho o maior e melhor presente que ela poderia dar. Leite materno é alimento, é vida, é força, é inteligência, é vinculo. 
 
(…)  Minha história começa aos 15 anos, quando seios grandes ainda não eram moda e os meus, infelizmente, tomaram proporções fora do padrão na época. Naquele tempo era quase impossível encontrar um sutiã que desse sustentação e que fosse decentemente usável (a maioria deles pareciam lindas lingeries da vovó). Lidar com isso, para mim, não foi fácil. Eu fui uma dessas adolescentes bem comuns, que sobra timidez e falta autoestima. Sabe como é? O desfecho de tudo isso: uma plástica no seio aos 19 anos de idade. Lembro como se fosse hoje! O médico cirurgião preocupado em me aconselhar e alertar sobre esse procedimento tão radical, sobre a possível impossibilidade de produzir leite e se, por um a caso houvesse produção, a exteriorização do leite poderia ficar comprometida pelos cortes que seriam feitos justamente nos ductos mamários. Eu, com toda minha arrogância juvenil, nem sequer pensei na possibilidade de esperar casar e ter filhos. Na verdade, a primeira coisa que eu pensei foi: existe leite artificial para quê?
 
Treze anos se passaram e, desde então, muita coisa mudou no meu modo de ver a vida. O amadurecimento me fez perceber que sou muito mais do que um corpo. Que padrões de beleza não se encaixam mais dentro do meu universo. Hoje, sou feliz porque sei que todos somos lindos em nossas diferenças e essa consciência somente o tempo me deu. Porém, a "merda" já tinha sido feita. Eu estava grávida, cheia de expectativas pessoais e um seio "mutilado". A ansiedade tomou conta de mim durante boa parte da gravidez. Procurei por sites na internet, comprei livros, busquei informações a respeito de mulheres que conseguiram amamentar mesmo depois de uma cirurgia plástica e, infelizmente, o pouco que obtive sobre o assunto vieram de mulheres desestimuladas e cheias de dúvidas que, com o tempo, desistiram de suas tentativas oferecendo assim o leite artificial ou fazendo a complementação entre a amamentação. Raphael nasceu de 32 semanas. Veio ao mundo de parto normal. Mesmo sendo prematuro, ele não precisou ser afastado de mim pois seu peso e estado físico eram compatíveis a um bebê a termo. Ele foi colocado no meu seio na mesma hora em que nasceu e nessa hora começaram as minhas dúvidas. Ele mamava e dormia em um curto espaço de tempo. Eu não tinha certeza da minha produção de leite e muito menos se ele dormia por estar cansado ou alimentado. Raphael não chorava e suas eliminações fisiológicas, para mim, pareciam normais. 
 
Porém, minha felicidade durou menos de 48 horas, quando ele começou a apresentar a pele amarelada e ser diagnosticado com icterícia neonatal. A pediatra, lógico, culpou a amamentação ineficaz (pois quanto maior a quantidade que o bebê mama, maiores são suas eliminações fisiológicas e mais fácil a bilirrubina é expelida do corpinho).  Por consequência disso, eu tive alta hospitalar mas o Raphael não. Felizmente, nos permitiram ficar com ele por mais dois dias, não precisei deixá-lo no hospital e voltar para casa sozinha. E foram quatro estressantes dias de internação quando, finalmente, a pediatra nos deu alta hospitalar. Porém, com duas condições: a primeira que eu fizesse visitas diárias ao consultório da pediatra até que houvesse a melhora do quadro clínico e a segunda que eu levasse para casa um saco de mamadeiras com leite artificial (cortesia do hospital) e suplementasse as mamadas.
 
Fomos para casa e, tenho que confessar, os dias que se seguiram foram bem difíceis. Éramos eu, meu marido, um bebê recém-nascido e nossos instintos, completamente sozinhos. Também não posso negar que tivemos a melhor experiência de todas as nossas vidas. Essa ajuda mútua só fez crescer ainda mais a admiração, o amor e o carinho que sinto pelo meu marido. Eu não me canso de dizer o quanto ele é fundamental na minha vida.
 
E os meus dias seguiram assim, eu passava 22 horas do dia com o Raphael no peito e as outras 2 horas "ordenhando" com a máquina elétrica. Já não distinguia mais quando o bebê mamava ou quando usava o peito de chupeta. Na verdade essa situação não me incomodava, eu sabia que esse tempo de dedicação, de livre demanda, seria importante para a tão sonhada produção de leite. Quanto mais o bebê mama mais a mãe produz. É isso que diz a teoria e foi nessa verdade que eu me agarrei.
 

Raphael aos 6 meses de amamentação exclusiva

Bom, por um "milagre" ou por muita força de vontade (gosto da segunda opção) eu produzi leite e essa produção só aumentou. Tomei muito líquido, fiz muito repouso, me mantive a mais calma que pude, comi muita canjica (rs), fiz livre demanda e cama compartilhada e, acima de tudo, acreditei muito em mim e no meu filho. Parei de ordenhar com a máquina pois tirar 5 ml dos dois seios, em 1 hora de ordenha, estava tirando toda a fé que eu tinha em mim mesma. A partir daquele momento meu filho foi o meu referencial. Isso bastou para mim! Ele estava bem, feliz e engordando a olho nu.
 
(…) Hoje, depois de 2 anos e 7 meses de amamentação, escrevendo e lembrando dos momentos bons e dos difíceis que passamos, a única coisa que tenho a dizer é que somos verdadeiros vitoriosos. 
 
E, sobre as mamadeiras que ganhei da pediatra fofinha: essas não me serviram de nada, as devolvi ao hospital na minha segunda aula de amamentação! 🙂
 
Renata Corrêa

Roteirista, carioca, mãe da Liz, de 13 meses

(…) Com 12 semanas eu já planejava um parto sem intervenções que respeitasse a fisiologia do meu corpo – e agora eu tinha cerca de 30 semanas para esperar e me conectar com o meu bebê. E foi nessa espera que um fantasma surgiu nublando um pouco essa paz, um fantasma que eu tinha guardado, enterrado para ele não atrapalhar o momento bacana que eu estava vivendo. E esse fantasma se chamava medo de não conseguir amamentar.

Esse medo não era gratuito, e sim muito bem fundamentado. Dez anos atrás eu tinha me submetido a uma cirurgia plástica chamada mamoplastia, que tradicionalmente é uma técnica utilizada para redução de mama, mas no meu caso era para corrigir o que os médicos chamam de “mama tuberosa”. Não é uma patologia, é estético – e esse “estético” era uma grande questão na minha vida adolescente.

Naquela época mesmo não sabendo se queria filhos ainda perguntei exaustivamente para os médicos sobre a possibilidade de amamentar pós cirurgia e todos eles foram categóricos em afirmar que sim, eu poderia amamentar sem problemas, que a técnica cirúrgica não era danosa aos mecanismos de produção e ejeção de leite, o que eu fui descobrir mais tarde ser uma meia verdade. 

Dez anos se passaram, e lá estava eu de madrugada sentada na frente do computador pesquisando relatos de amamentação de mulheres que também tinham passado pela mesma cirurgia: corte T invertido com reposicionamento do mamilo. Os prognósticos não eram exatamente animadores – translactação, bombinhas, complemento. Nada daquela imagem idealizada que eu tinha da amamentação, natural onde nada estava entre o corpo da mãe e o corpo do bebê. Conversei com alguns profissionais de saúde e mães e todos até admiravam meu entusiasmo mas sutilmente aconselhavam a me preparar para no mínimo, um começo difícil. 

E foi o que eu fiz – pesquisei sobre alternativas à baixa produção, pega errada do bebê e todos os problemas que poderiam acontecer em decorrência da intervenção cirúrgica. E também me preparei mentalmente, principalmente nas aulas de yoga da minha querida parteira. Especialmente em um exercício onde as gestantes abraçavam a si mesmas, eu me abraçava e acolhia mentalmente a adolescente que decidiu se operar, e inspirava imaginando os peitos pingando leite, inundando a sala de yoga e se transformando num verdadeiro rio que ia de encontro ao meu bebê dentro da barriga. Foi uma imagem formada no meu inconsciente e que eu resgatava para convencer o meu corpo de que eu acreditava nele – tanto pra parir quanto para alimentar o outro ser que sairia dele. 

A minha data provável do parto era no auge do inverno, e com oito meses de gravidez eu já não tinha mais roupas de frio que coubessem. Em casa, era pijama e moletom do marido numa tentativa de me aquecer em uma casa que foi feita para dias de verão: janelas enormes, abertas para um pequeno quintal, piso de cimento, pé direito alto. E foi um dia, tomando coragem para trocar de roupa que eu vi pequenos pontinhos brancos sólidos grudados no bico do peito e no sutiã. Será que era leite? Mandei um email para uma lista de mães que eu participava na época da gravidez e uma das mulheres que também tinha feito uma mamoplastia logo respondeu: comemore! sim, é leite!

Leite sólido, cristais valiosos que me encheram de confiança. Alguns dias depois ele veio, gotejante, líquido, quente, durante o banho. Meu corpo se preparava para receber a minha filha, e o medo foi dando lugar a certeza de que eu poderia amamentar. Mas se restava alguma dúvida ela ruiu no dia do nascimento. Liz nasceu em um intenso parto domiciliar, veio direto para os meus braços de boca aberta. A neonatologista deu uma apertadinha no peito e o colostro era abundante. “Essa tem colostro pra dois bebês”. E a Liz agarrou o peito com uma pega perfeita, um bico de peixinho e com uma gana de viver maravilhosa.

No dia seguinte meu leite desceu. E o medo voltou. O peito ficou enorme, duro, a Liz não conseguia mamar. Com um pouco de ordenha  e paciência o peito voltou a ficar acolhedor para ela e tudo se ajustou. 

Não vou dizer que foi fácil – A Liz era um bebê glutão,  que chorava muito e que chegou a ficar seis horas grudada no peito na primeira semana de vida. Me comprometer com a livre demanda e com o aleitamento exclusivo foi a melhor decisão para que ela pudesse se adaptar ao mundo de forma mais suave, se sentindo amparada e segura. A cada minuto que ela ficava no peito era mais um minuto onde eu me sentia recebendo a minha filha, e mais um minuto que ela podia se sentir não só alimentada, mas acarinhada, respeitada, bem-vinda. E esse amor se multiplicou, pois o excesso da minha farta produção foi doado o Hospital Universitário durante quatro meses para bebês internados na uti neonatal.

(…) Hoje a Liz tem dez meses e meio e eu já voltei a trabalhar. Ela come frutas, sopas, grãos, vegetais e até um pãozinho de vez em quando. E continua mamando após as refeições principais, para acordar e para dormir. Hoje a relação não é mais simbiótica. É de parceria, é de dupla. Ela ri, abraça e brinca com o peito. Ele é o porto seguro para onde ela pode voltar depois de suas aventuras engatinhantes e quase andantes pela casa e pelo quintal.

Não posso dizer quando iremos parar, nem um motivo específico para tomar essa decisão – são muitos. Mas o principal é entender a amamentação não apenas como uma maneira de preencher os requisitos nutricionais para o bom desenvolvimento da criança, mas também como uma maneira de se relacionar – que começa, evolui, muda, e finda por seu próprio esgotamento sem grandes traumas ou intervenções. E aqui seguimos esse fluxo sem data para acabar.

 

Victoria Midlej

Fisioterapeuta. 
Professora de Educação Física. 
Iniciante no mundo da Maternidade Consciente. 
Mãe de Ana Luísa.
 Eu fiz a mamoplastia redutora para corrigir a flacidez de meus seios após emagrecer muito há 10 anos atrás. Tempos depois, em uma consulta com minha GO, queixei de perda de sensibilidade nos seios e ela me explicou que em toda mamoplastia, alguns nervos superficiais são lesionados e que há remoção de glândulas mamárias o que poderia dificultar e até impedir a amamentação.
Durante a gravidez, meus seios não incharam muito e eu não produzi o colostro, o que me fez ficar arrasada, achava que era por conta da cirurgia e que não conseguiria amamentar. Para completar, tenho o que chamam de mamilo com bico invertido. Minha mãe falou que eu fizesse um exercício que foi ensinado a ela de puxar o bico do peito, mas não adiantou nada.
Eu só produzi o colostro no dia em que ela nasceu e o leite 3 dias depois. A equipe de Enfermagem do hospital em que ela nasceu tem uma política de apoio à amamentação muito boa, as enfermeiras eram muito solícitas e explicavam tudo com muita calma e didática; inclusive foi delas que obtive a dica que mais me ajudou: a pinça, pois quando faço a pinça, o bico do peito “salta para fora” e ela pega rapidinho, quando não faço, dói e ela tem dificuldade para fazer a pegada correta o que faz doer muito. Quanto à quantidade de leite, acho que produzi normal, pois chegou a vazar algumas vezes.
(…) Quanto à quantidade de leite, acho que não fiquei devendo a ninguém sem cirurgia, pois cheguei a vazar, coisa que eu nunca imaginei, pois minha médica me disse que eu poderia ter dificuldade de amamentar devido ao fato de que algumas glândulas mamárias são removidas durante a cirurgia. Pense na minha felicidade quando vazou!
 (…) Dizer que consegui amamentar minha filha exclusivamente até os 6 meses é um dos maiores orgulhos que tenho. Pretendo continuar até ela não querer mais e tenho certeza que sentirei falta desse momento tão nosso.  
 
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