Grande número de mulheres que fizeram mamoplastia redutora acaba não amamentando por má orientação profissional, não por incapacidade física.
Sim! Mulheres que viveram mamoplastia redutora conseguem amamentar!
“Amamentação após a cirurgia de redução de mama certamente é possível. Com os avanços nas técnicas cirúrgicas para redução de mama, os cirurgiões são cada vez mais capazes de preservar os tecidos produtores de leite, para que as mulheres sejam capazes de produzir quantidades significativas de leite. A amamentação, então, é uma possibilidade muito concreta se a mulher passou por essa cirurgia, supondo que ela tenha,pelo menos, um peito com um mamilo e aréola.
Apesar de existir a chance de alguns dutos terem sido cortados durante a cirurgia, ao longo do tempo muitos desses dutos voltam a "crescer" (e isso pode acontecer em um ritmo acelerado sob a influência dos hormônios de uma gravidez) e, de modo geral, em cerca de cinco anos eles voltam a ter sua funcionalidade praticamente intacta. Ou seja: a grande maioria das mães que passou por essa cirurgia consegue produzir leite materno suficiente.
Antes do nascimento do bebê, não há nenhuma maneira de saber quanto leite a mulher que fez mamoplastia vai ser capaz de produzir. Após o parto, talvez a melhor coisa que ela possa fazer para maximizar sua amamentação é uma coisa relativamente simples: remover tanto leite quanto possível nas primeiras duas ou três semanas de vida do bebê. Isto porque a quantidade de leite que as mamas estão programados para "fazer" frequentemente é determinada nesse período. Quanto mais leite for retirado nesse tempo, maior a capacidade de produção de leite os seios vão ter. Obviamente, a melhor maneira de fazer isso é através da amamentação em LD (livre demanda), mas o uso de uma bomba de leite poderosa também pode ser útil nesse período.
Além da amamentação em LD, outras ações podem ser úteis: procurar os grupos de apoio, procurar compartilhar sua vivência (e seus meios e angústias) com outras mulheres que passaram por experiência semelhante, procurar informação e auxílio nos bancos de leite, acreditar, confiar, ter paciência (os bebês não crescem e se desenvolvem de maneira igual), pedir ajuda para alguma consultora de amamentação ou doula pós-parto experiente, se cercar de pessoas pró-amamentação, descansar bastante, se alimentar e principalmente se hidratar muito, lembrar (e se fartar, se quiser) dos lactogogos, aceitar as eventuais dificuldades, observar a troca de fraldas para definir se a quantidade de leite tem sido suficiente, não permitir intervalos muito grandes entre as mamadas, amamentar à noite, não introduzir bicos artificiais precocemente. Não existe uma receita pronta: cada mulher pode se servir do que melhor lhe cabe ou faz sentido!
Por fim, vale lembrar que, mesmo se essa mulher não tiver leite suficiente, ela pode ter uma experiência muito gratificante com a amamentação, e há muitas maneiras de aumentar sua produção de leite. A amamentação é mais do que apenas a produção de alimentos para o seu bebê".
Raphael aos 6 meses de amamentação exclusiva
Roteirista, carioca, mãe da Liz, de 13 meses
(…) Com 12 semanas eu já planejava um parto sem intervenções que respeitasse a fisiologia do meu corpo – e agora eu tinha cerca de 30 semanas para esperar e me conectar com o meu bebê. E foi nessa espera que um fantasma surgiu nublando um pouco essa paz, um fantasma que eu tinha guardado, enterrado para ele não atrapalhar o momento bacana que eu estava vivendo. E esse fantasma se chamava medo de não conseguir amamentar.
Esse medo não era gratuito, e sim muito bem fundamentado. Dez anos atrás eu tinha me submetido a uma cirurgia plástica chamada mamoplastia, que tradicionalmente é uma técnica utilizada para redução de mama, mas no meu caso era para corrigir o que os médicos chamam de “mama tuberosa”. Não é uma patologia, é estético – e esse “estético” era uma grande questão na minha vida adolescente.
Naquela época mesmo não sabendo se queria filhos ainda perguntei exaustivamente para os médicos sobre a possibilidade de amamentar pós cirurgia e todos eles foram categóricos em afirmar que sim, eu poderia amamentar sem problemas, que a técnica cirúrgica não era danosa aos mecanismos de produção e ejeção de leite, o que eu fui descobrir mais tarde ser uma meia verdade.
Dez anos se passaram, e lá estava eu de madrugada sentada na frente do computador pesquisando relatos de amamentação de mulheres que também tinham passado pela mesma cirurgia: corte T invertido com reposicionamento do mamilo. Os prognósticos não eram exatamente animadores – translactação, bombinhas, complemento. Nada daquela imagem idealizada que eu tinha da amamentação, natural onde nada estava entre o corpo da mãe e o corpo do bebê. Conversei com alguns profissionais de saúde e mães e todos até admiravam meu entusiasmo mas sutilmente aconselhavam a me preparar para no mínimo, um começo difícil.
E foi o que eu fiz – pesquisei sobre alternativas à baixa produção, pega errada do bebê e todos os problemas que poderiam acontecer em decorrência da intervenção cirúrgica. E também me preparei mentalmente, principalmente nas aulas de yoga da minha querida parteira. Especialmente em um exercício onde as gestantes abraçavam a si mesmas, eu me abraçava e acolhia mentalmente a adolescente que decidiu se operar, e inspirava imaginando os peitos pingando leite, inundando a sala de yoga e se transformando num verdadeiro rio que ia de encontro ao meu bebê dentro da barriga. Foi uma imagem formada no meu inconsciente e que eu resgatava para convencer o meu corpo de que eu acreditava nele – tanto pra parir quanto para alimentar o outro ser que sairia dele.
A minha data provável do parto era no auge do inverno, e com oito meses de gravidez eu já não tinha mais roupas de frio que coubessem. Em casa, era pijama e moletom do marido numa tentativa de me aquecer em uma casa que foi feita para dias de verão: janelas enormes, abertas para um pequeno quintal, piso de cimento, pé direito alto. E foi um dia, tomando coragem para trocar de roupa que eu vi pequenos pontinhos brancos sólidos grudados no bico do peito e no sutiã. Será que era leite? Mandei um email para uma lista de mães que eu participava na época da gravidez e uma das mulheres que também tinha feito uma mamoplastia logo respondeu: comemore! sim, é leite!
Leite sólido, cristais valiosos que me encheram de confiança. Alguns dias depois ele veio, gotejante, líquido, quente, durante o banho. Meu corpo se preparava para receber a minha filha, e o medo foi dando lugar a certeza de que eu poderia amamentar. Mas se restava alguma dúvida ela ruiu no dia do nascimento. Liz nasceu em um intenso parto domiciliar, veio direto para os meus braços de boca aberta. A neonatologista deu uma apertadinha no peito e o colostro era abundante. “Essa tem colostro pra dois bebês”. E a Liz agarrou o peito com uma pega perfeita, um bico de peixinho e com uma gana de viver maravilhosa.
No dia seguinte meu leite desceu. E o medo voltou. O peito ficou enorme, duro, a Liz não conseguia mamar. Com um pouco de ordenha e paciência o peito voltou a ficar acolhedor para ela e tudo se ajustou.
Não vou dizer que foi fácil – A Liz era um bebê glutão, que chorava muito e que chegou a ficar seis horas grudada no peito na primeira semana de vida. Me comprometer com a livre demanda e com o aleitamento exclusivo foi a melhor decisão para que ela pudesse se adaptar ao mundo de forma mais suave, se sentindo amparada e segura. A cada minuto que ela ficava no peito era mais um minuto onde eu me sentia recebendo a minha filha, e mais um minuto que ela podia se sentir não só alimentada, mas acarinhada, respeitada, bem-vinda. E esse amor se multiplicou, pois o excesso da minha farta produção foi doado o Hospital Universitário durante quatro meses para bebês internados na uti neonatal.
(…) Hoje a Liz tem dez meses e meio e eu já voltei a trabalhar. Ela come frutas, sopas, grãos, vegetais e até um pãozinho de vez em quando. E continua mamando após as refeições principais, para acordar e para dormir. Hoje a relação não é mais simbiótica. É de parceria, é de dupla. Ela ri, abraça e brinca com o peito. Ele é o porto seguro para onde ela pode voltar depois de suas aventuras engatinhantes e quase andantes pela casa e pelo quintal.
Não posso dizer quando iremos parar, nem um motivo específico para tomar essa decisão – são muitos. Mas o principal é entender a amamentação não apenas como uma maneira de preencher os requisitos nutricionais para o bom desenvolvimento da criança, mas também como uma maneira de se relacionar – que começa, evolui, muda, e finda por seu próprio esgotamento sem grandes traumas ou intervenções. E aqui seguimos esse fluxo sem data para acabar.
Victoria Midlej
Iniciante no mundo da Maternidade Consciente.
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